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quinta-feira, junho 07, 2012

Democracia Corinthiana - política no futebol como estética da utopia

Acabo de assistir ao documentário "Ser Campeão é Detalhe: Democracia Corinthiana" de Gustavo Forti Leitão e Caetano Biasi. O curta-metragem de menos de meia hora de duração conta a trajetória do clube corinthiano no início da década de 1980 em que, liderado por Dr. Sócrates - o jogador mais original da história do futebol brasileiro, segundo Juca Kfouri -, inventou uma maneira singular, sem precedentes ou imitações, de se fazer futebol: através da participação de todos os funcionários nas decisões administrativas, uma política democrática em meio à indústria do esporte.
A primeira coisa que me veio à mente foi admirar a beleza daquele momento histórico. Dessa constatação, percebi que o movimento dessa geração era, para além da política, um movimento estético.
Não há quem refute a ideia de que futebol seja um esporte muito rico plasticamente; dribles, chutes, danças no ar, malícia e emoção. Todavia, na democracia corinthiana, há ali outros elementos de estética para além da pura forma e da comemoração festiva - há ali o idealismo como premissa.
Em determinados movimentos da história do século XX como a psicodelia (que uniu poesia, música e psquiatria como crítica à ordem consumista, racionalista e conservadora que vigorava no pós-guerra), a estética surgiu oferecendo modelos que desafiavam os padrões de música pop e comportamento e, por conseguinte, fazendo política.
O resultado nós bem sabemos: políticas violentas de moralização e repressão às drogas, ditaduras da américa latina, supremacia capitalista, perseguição aos hippies. A década de 70 pareceu querer demonstrar de forma enfática o fracasso da estética revolucionária do final da década que a precedia.
Daí surge a questão que me remete à democracia alvinegra. O fracasso quer significar erro?
O título do filme responde, ao menos para mim, tal indagação. Ser campeão deveria ser, sim, detalhe; assim como estar certo e lutar pelo que se acredita deve ser princípio e não instrumento para se tornar um vencedor. Darcy Ribeiro disse certa vez que havia perdido em todas as batalhas políticas que teria travado pela vida, mas que não haveria nada no mundo que mais odiaria do que estar ao lado dos vencedores.
Fazer política, assim como fazer arte ou educar é tarefa de quem segue alguma estética de utopia: não por ser impossível, mas por nos indicar o que deveria ser o certo.
Assistam ao curta para refletir e, de fato, fruir desse momento histórico tão bonito. Ou esse movimento estético tão político. Porque uma batalha que vale a pena ter lutado - ainda que sem frutos - serve para embelezar a memória da humanidade.
Salve, Dr. Sócrates. Salve o Corinthians.

(Texto/desenho: Chuí)
link para ver o curta:
http://www.portacurtas.org.br/beta/filme/?name=ser_campeao_e_detalhe_democracia_corinthiana

segunda-feira, março 12, 2012

WALKING THE DOG

WALKING THE DOG

Crazy Dad é o nome da nova banda que tenho a felicidade de agora inventar junto a meus amigos e parceiros, os super-músicos Guappo Sauerbeck, Alaor Neves e Ney Haddad.
Tendo como elo comum a todos no grupo o amor por esses "loucos pais" de boa parte da música que se ouve hoje - o blues, o rock e o soul - a Crazy Dad se une para revisitar à sua maneira a música que serviu de raiz à música das gerações que sucederam-se nas últimas 4 décadas de som.
Em breve nos palcos paulistanos, eis aqui uma música-amostra de nosso repertório que trará blues, soul e rock em interpretação próprias.

quinta-feira, março 08, 2012

Prêmio da Música Brasileira 2012

Olhem só,
Meu terceiro CD Oãça Rock é um dos pré-selecionados para o 23 Prêmio da Música Brasileira, competindo com grandes nomes como Adriana Calcanhoto e Djavan, entre tantas feras. Vejam a lista:
http://www.premiodemusica.com.br/pre-selecionados-2012/2


É uma premiação aos melhores cds do ano, sem distinção de ser independente ou de grandes gravadoras. Já fico feliz com a pré-seleção.
Aqui deixo o link àqueles que queiram ouvir/baixar as faixas do CD.
http://www.fernandochui.com.br/musica.html
Bjs a todos,
Chuí

terça-feira, janeiro 17, 2012

Fumaça


Brincar com giletes, fingindo que são bonecas.
Para muitos: melhor ao sangue que ao deserto.
Nostalgia não é mera estupidez, é uma escolha.

Ainda é possível que se veja lindos desenhos
na fumaça que sobe de um incêndio.

(texto/desenho: Chuí)

sábado, janeiro 14, 2012

Coerência

Durante dois meses,
Escreveu e reescreveu a carta
por mais de dez vezes.
Todas começavam e terminavam da mesma forma:
“Você jamais lerá esta carta”.

Revisou a gramática.
Depurou a pontuação.
Reviu os adjetivos.
Um dia, ali estava ela, pronta.

Releu-a três vezes
antes de deletar.

Coerência é qualidade essencial em um poeta.

(Texto/desenho: Chuí)

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Dona do Inevitável

  
Rastros, sinais, indícios:
armadilhas do caos.
Embora eu leia, reflita, preste atenção -
deduzo sempre que são somente cores 
a se misturar na tela abstrata do futuro;
nada nada nada
saberíamos de nós.

De que são feitas suas sombras,
ó dona do inevitável?

(texto/desenho: Chuí)

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Retrato de você que não existe


A tradição do retrato fez dele uma tarefa ingrata.
Pessoas têm essa mania de auto-identificação.
Elas têm que se projetar no desenho
como se dessa forma se projetassem na eternidade.
Sempre vivo desenhista a temer a distorção, 
a caricatura, o erro.
É uma escravidão isomórfica.
Há uma responsabilidade meio divina:
como se o desenho fosse o homem
e o homem fosse Deus,
e, então, fazê-lo à sua imagem e semelhança.
É histórico; inevitável.

Para isso encontro a solução:
faço o retrato de você, que não existe.
Busco sua expressão,
os primórdios de sua careta, seu perfil;
suas linhas, texturas, luzes & sombras;
assim sugiro sua história, sua memória, seu código
à imagem e semelhança de ninguém.

Voilá; aí está você, que não existe.

(texto/desenho: Chuí)

terça-feira, janeiro 10, 2012

Inversão shakespeareana


Um olhar crítico sobre a vida
nos situa e define no mundo.
Inversão shakespeareana:
- Questionar ou não questionar:
eis o que somos.

(texto/desenho: Chuí)

sábado, janeiro 07, 2012

Nostalgia


Desenho uma paisagem
de um lugar que nunca fui;
que nunca foi visto - sequer existe.

Ao último traço, me noto: parece saudade.
O passado é uma ficção disfarçada de memória.
Nostalgia é uma forma de se inventar imagens. 

(texto/desenho: Chuí)

sexta-feira, janeiro 06, 2012

2012

A vida. O amor. A batalha.

Somente por ser enorme,
não quer dizer
que não possa ser
de fato

leve.


(texto/desenho: Chuí)