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segunda-feira, novembro 24, 2008

Work in progress: Título / Capa do Disco Novo




Amigos,
O disco novo está quase pronto.
Devo confessar que o rock desta vez é a estética preponderante, em guitarras e baterias que agora me aproximam mais deste estilo de música cantada oriundo da língua inglesa (a canção é sempre o produto de uma língua).
Também percebi - a posteriori - que, das 13 canções gravadas, praticamente todas elas tocam em um tema comum: o mito; e como ele nos une ou nos separa dentro da metrópole.
Desta junção de rock, mito e nós mesmos, veio a idéia do nome: "Me & Tu".
Me(leia-se "mi" - mim em inglês) & Tu (você). O som ao se falar soaria como Mi-tu, ou seja, com a contração natural do "ó" em "u", soaria "Mito" - e também "eu e você". Gosto da idéia de uma palavra que ganha seu sentido somente no momento em que se pronuncia. Bom, é estranho de toda forma explicar um título, mas enfim, cá estou.
Deixo aberto aqui para opiniões sobre o título, gostaria de saber a impressão de todos sobre ele e sobre a capa que vem sendo feita aos poucos.
Acima o processo da capa até então: um auto-retrato, uma primeira idéia e o atual momento gráfico para chegar a ela.
O que vocês acham?
Beijos a todos,
Chuí

terça-feira, novembro 18, 2008

DOM DO CIÚME - SESC CAMPINAS


Amigos,
Não tive tempo de divulgar, mas aqui está o convite para a última apresentação do ano do espetáculo DOM DO CIÚME. Nesta edição que será realizada no teatro do SESC Campinas, receberemos à festa da música e da literatura o escritor Luiz Roberto Guedes.
Beijos a todos,
Chuí

sábado, novembro 15, 2008

Eu e a Bola


Juro: mais do que desenhar o Popeye e a Graúna, mais do que fazer dobraduras, mais do que comer azeitonas verdes, quando eu era garoto nada me dava mais prazer do que jogar bola.
Nada original neste país, admito. Mas deixemos claro que jogar bola é muito diferente de futebol. Futebol requer regras claras e pessoas em busca de um resultado coletivo. Jogar bola não, faz parte do campo das fantasias individuais. Eu, como tantos brasileirinhos, jogava bola todo o tempo.
Uma diferença, talvez. Como eu passava muito tempo sozinho em casa e não podia estar no campo com gente de verdade, eu jogava sozinho no meio da sala, com bola invisível, gramado, traves e imensas torcidas imaginárias. A sala era a folha de papel para meus desenhos das jogadas.
A minha bola parecia-se muito com aquela que seguia as legendas daqueles desenhos animados cantantes. Algo entre branca e incolor, como um fantasminha camarada.
Quando eu estava no carro, minha bola imaginária saía do meu pé, rebatia nos postes das ruas e voltava. Ninguém percebia as minhas embaixadinhas constantes por baixo do banco. As regras se refaziam a cada instante.
Somente uma era permanente e irrevogável: todo dia, eu deveria driblar o time inteiro e fazer um gol incrível seguido de uma comemoração como o da quebra de mil anos de abstinência de títulos.
Juro: eu pulava nas almofadas da sala, rolava pelo tapete da entrada, ralava o joelho nos tacos de madeira. Ninguém nunca viu, só meus amigos animados.
As paredes eram os zagueiros e a trave era a porta de vidro que dava para o quintal.
Meu jogo nunca acontecia no quintal, meu estádio era a sala e minha platéia era a tela da TV ligada em desenhos animados de Hanna Barbera como Chuvisco, Plic&Ploc e os Jetsons. Eu jogava pra galera - da Barbera.
Quando eu comecei a jogar de verdade com meu irmão e os caras da rua, eu era o menor de todos e sempre ficava restrito à defesa. Todo mundo fazia gols e eu recebia aquele tapinha nas costas e frases de consolo como “foi bem hoje, Fê” ou “o Fê marca direitinho”. E minha artilharia seguia crescente no campeonato estadual da sala de TV.
Mas aconteceu de eu ir crescendo e o pessoal da rua foi me dando mais espaço na linha.
Deixei a defesa e fui pro ataque. Nunca fui bom de estratégias. Meu universo particular não me desenvolvera táticas. Minha miopia atrapalhava a visão de jogo. Estraguei muitas jogadas por conta de meu não-futebol. Mas percebi que eu tinha um arranque bom e o sonho de dançar a la Garrincha. Fiquei bom de drible. E aprendi a chutar com as duas pernas. Fazia mais gols até com a canhota.
E um dia, juro: eis que aconteceu. Eu jogava contra um time de “maloqueiros” – era como o pessoal chamava os garotos pobres que jogavam com a gente no parque –, saí da pequena área com a pelota, driblei todo o time adversário e fiz o gol. Inacreditável, mas eu juro que foi assim.
“Aê, Fê!”, “Boa, Fê!”, “Golaço, Fê!”. Descobri aos treze anos que eu podia fazer aquilo mais vezes. Durante um tempo, fiz vários desses gols.
Apenas uma coisa não se repetia. A comemoração.
Alguma coisa não me deixava celebrar de forma efusiva. Sei lá.
Lembro-me bem de um garoto na minha classe do colégio, o Giuliano. Ele nem era craque, mas fazia muitos gols. Enquanto ele era o pecado da preguiça, o conhecido "banheira", eu era justo, dava "assistência" e voltava pra defesa depois do nosso ataque; e enquanto ele era o pecado da gula no meio da quadra, o famoso “fominha”, eu sempre passava a bola, era solidário.
Só uma coisa destruiria por completo minhas pretensões de atingir o meu ideal de nobreza humana. A cada gol que Giuliano fazia, ele comemorava loucamente, dando voltas pela quadra; seu rosto inchava, vermelho sanguíneo de satisfação e todos os garotos corriam atrás dele pulando sobre suas costas. Eu, quando fazia gols, corria lenta e sobriamente para o lado da quadra, como um soldado raso ao cumprir sua tarefa.
Giuliano era ira e soberba nas comemorações ao redor da quadra do Colégio. E eu, que almejava a estética humilde, cristã e límpida, por dentro era a inveja e a avareza olhando seus pulos de luxúria com o grupo.
Em algum momento de minha formação, devo ter incorporado uma idéia de que comemorar era algo pouco nobre. E isto se seguiu por muito tempo.
Vejo agora que os momentos vitoriosos são diamantes montados em relâmpagos; e celebrá-los é parte essencial dos partos de nossas experiências. Aos poucos perdi meu arranque, minha miopia aumentou. E com os anos, até mesmo o campeonato estadual da minha sala foi aos poucos perdendo a torcida animada que deu lugar a outras cores e melodias em minha vida.
Todavia nada disso importa agora, já que hoje em dia eu raramente jogo uma bola. Nunca mais vi o menino Giuliano dentro ou fora de campo. Nem sequer vejo mais futebol. Nem desenhos animados. Nem TV.
Acho que afinal eu nunca joguei futebol. Porém preservo a memória da bola invisível. Sei que ela está ainda aqui. Nem acredito que as memórias da nossa infância existam para que aprendamos lições com elas; acho que elas são como sonhos que a gente interpreta cada vez de uma forma e jamais se lembra de tudo.
Mas juro: a cada dia eu venho aprendendo a comemorar melhor os gols e pecados que hoje faço.


(texto e desenho de Chuí)

terça-feira, novembro 11, 2008

Entrevista a AIC - Sobre a Canção


Amigos, a vida, o trabalho e a pesquisa não têm me deixado tempo para o prazer da escrita/desenho/diálogo neste blog, mas divulgo aqui esta breve entrevista a respeito da oficina de canção que dei a Marcia Mattos, a assistente de comunicação da Academia Internacional de Cinema, onde serão realizados os encontros.
E em breve retomo o blog com a devida constância...
Beijos a todos,
Chuí

AIC: Olá, Fernando
boa tarde! Obrigada por sua colaboração, viu?

Chuí: Marcia, eu que agradeço.

AIC: Por quê uma Oficina de Canção?

Chuí: A canção é um dos elementos culturais mais presentes na memória e no cotidiano das pessoas nos últimos 100 anos e, ao mesmo tempo, é uma linguagem em si um tanto quanto mal compreendida. Não se encaixa realmente no terreno da música nem no da poesia e, no entanto, quando nos referimos a ela, falamos de música e poesia, sem nos darmos conta a respeito de que se trata.
A idéia de uma oficina de canção não é definir um conceito como quem definisse uma resposta fechada, mas reavivar a canção como uma experiência viva e social, refletindo sobre sua história, abordando teorias que respaldem a compreensão e fruição do tema para a realização de criações musico-literárias.

AIC: O que devem esperar os alunos desta oficina?

Chuí: O meu desejo é que os participantes façam comigo uma reflexão coletiva sobre o lugar e o sentido da canção nos dias de hoje e, sobretudo, que juntos inventemos novas canções a serem apresentadas ao final dos encontros. O curso pode até estimular novos compositores, mas a idéia principal é trazer a criação de canções como uma experiência coletiva de criatividade e de fruição do enorme legado de nossos cancionistas. Para tanto, precisamos às vezes recorrer à história e à teoria. É claro que sem jamais nos desvencilharmos da canção viva, algo a ser cantado, alegrado, rememorado.

AIC: Existe fórmula para escrever uma boa canção?

Chuí: Certamente que não. Assim como não há fórmula para uma suposta boa arte em nenhum campo de sua criação. Não há equação que nos levasse a Adoniran Barbosa ou a Bob Dylan, assim como a Drummond ou a Van Gogh.
Mas há maneiras de compreendermos/apreciarmos mais as suas cores, e há dinâmicas possíveis para vivenciarmos a canção por novos processos, para quem sabe reconstruirmos ali o sentido de se cantar versos.

AIC: De que tipo de experiência se extrai inspiração para criar uma melodia original?

Chuí: Em canção, a melodia é apenas um dos vários elementos que lhe conferem expressividade.
Existe a letra - que traz uma forma poética ligada à fala -, o arranjo - que é aberto -, o acento do cantor, etc. A combinação de todos estes fatores é que nos faz gostar de uma música mais do que de outra. No cancioneiro popular - em sua maior parte - há pouco que pudéssemos definir como definitivamente original em termos de melodia.
A música popular é, em si, uma arte de redundâncias onde a originalidade se dá por meio de sutilezas e escolhas pessoais. Mesmo em obras de compositores melodicamente geniais como Tom Jobim, é difícil definir originalidade. Ele mesmo foi processado por algumas vezes - nunca perdeu, diga-se - por plágio por conta da forte semelhança de algumas de suas melodias com as de determinadas canções do jazz.
E inspiração, para mim, é fruto do trabalho contínuo e do diálogo com o mundo.

AIC: Qual a liga necessária para o casamento entre a letra e a canção?

Chuí: Também não vejo uma resposta simples para essa questão. Mas de um forma geral, esta é uma preocupação com a prosódia, que diz respeito à combinação das melodias com o acento e a entoação presentes na letras - que tem ligação direta com a fala.
Em geral, é bom evitar choques entre a melodia(música) e o acento natural da fala(letra). Também é legal evitar letras cujas sílabas poéticas não se encaixem numericamente nas notas da melodia. Mas há diversos casos de grandes canções com erros de prosódia e tantas outras que a melodia se prolonga depois da sílaba final. Acho que não há regras, o mistério da beleza das coisas se dá à revelia da técnica.
Mas toda essa conversa só faz sentido se pudermos sair do terreno da lógica e adentrarmos o campo da experiência, esta, que é afinal a proposta desta oficina.

AIC: Um abraço e muito obrigada!