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quarta-feira, setembro 24, 2008

DOM DO CIÚME no SESC POMPÉIA


Amigos,

Depois de duas apresentações deliciosas no SESC Pinheiros e no SESC Sorocaba, o DOM DO CIÚME mostra sua cara no SESC Pompéia.
Desta vez, além de muita música e cantoria, eu e Mona Gadelha assumiremos a leitura de trechos de Dom Casmurro de Machado de Assis, alternando-as com novas canções relacionadas ao ciúme Casmurrento. E em meio a tudo, um desenho a nanquim se fará projetar ao telão...
Será às 18 hs e a entrada é franca, na choperia.
Venham todos à celebração musical do amor paranóico. Estou certo que Machado não negaria que "por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz..."

Beijos a todos,

Chuí

Outubro de SAMBLUES!


Pessoal,
SAMBLUES! em outubro na área:

Dia 1 - no New Jazz Bar
Dia 9 - no Syndikat Jazz Club
Horário: 21:30hs

Eu, Guapponi e a guitarra fervente de Danny Vincent fazemos a JAM mais mestiça da cidade nos dias 1 e 9 de outubro, em duas das melhores casas de jazz de São Paulo.
Muito samba ao acento blues/jazz, músicas minhas, improvisações livres, etc...

Venham!

Beijos do Chuí

Oficina de Canção na Academia Internacional de Cinema



Amigos,
Não costumo divulgar meus cursos neste blog, mas farei aqui uma exceção, dada a natureza desta nova empreitada...
Em novembro, ministrarei uma oficina de canção na Academia Internacional de Cinema (AIC)- em Higienópolis -, a belíssima escola profissionalizante em cinema, e que também traz cursos de criação literária, área onde se abrirá este curso.
Serão 4 encontros onde pretendo abordar a canção ao longo da história, teorias referentes a esta e, sobretudo, propiciar a criação de canções entre os participantes.
Não é necessário que seja músico ou ter formação na área.
Convido a todos para participarem desta experiência musico-literária comigo.
Peço também ajuda na divulgação desta oficina - aos amigos, amigos de amigos, etc.
Estou certo de que será muito legal.
As informações vão no flyer acima (basta clicar sobre a imagem que ela se ampliará).
Beijos a todos,
Chuí

segunda-feira, setembro 15, 2008

Fresta! na UERJ - Herói é Humano


Amigos,
Fiquei sabendo por intermédio de três gentis estudantes - Thales, Rafael e Pâmela - que um dos textos deste blog (postado em 21 de dezembro de 2006) foi publicado na prova do vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), realizada por eles há alguns dias.
Pelo que entendi, o texto não estava na íntegra, por isso resolvi postá-lo novamente aqui para os leitores novos e aos antigos que, por ventura, não o tenham lido.
Acima, um desenho de 1993 de uma história que eu fazia com o Beto, um amigo da faculdade.
Thales, Rafael e Pâmela, obrigado pelo toque.
(e mandem-me e-mails para retorno, ok?)
Beijos a todos,
Chuí

Herói é humano

Quando eu era criança eu passava todo o tempo desenhando super-heróis.
Eu fazia assinatura das revistinhas da Marvel e aguardava ansioso pelos gibis SuperaventurasMarvel, Homem-Aranha, Heróis da TV e Hulk, além de comprar na banca de jornal as séries do Batman e do Super-homem.
Para quem não é formado por esta literatura, é preciso explicar de que se trata. É a arte seqüencial, definição do gênio Will Eisner, que flerta com o infantil e com o adulto ao mesmo tempo.
Esteticamente, as HQs de super-heróis também têm algo de paradoxal. Por um lado, elas se propõem a uma seriedade digna de uma Odisséia, e, por outro, apresentam-se com desenhos cheios de balõezinhos que tornam quase impossível a tarefa de se escapar do kitch. Seus desenhistas trabalham as figuras todas em proporções realistas e, não obstante, não conseguem escapar da sua caricatura de nanquim. Com o advento das graphic novels dos anos 80, criou-se uma legenda de que então as HQs finalmente assumiriam seu posto de arte de boa qualidade. Todavia, não acho que a tal qualidade estética das ditas HQs adultas seja o maior legado das histórias de super-heróis. O cinema, sim, resgatou delas a sua essência, algo como o kitch-cult.
Toda HQ de super-heróis retrabalha, como evidencia o próprio nome, o mito do herói.
Recorro - mais uma vez - a Joseph Campbell que diferenciava as duas figuras públicas: o herói (figura pública antiga); e a celebridade (a figura pública moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. Gandhi disse que, quanto maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como Batman.
Por trabalharem sob uma narrativa progressiva e cíclica, e serem tecnicamente mais ambiciosas do que as outras modalidades de HQs, as histórias de super-heróis se deslocaram de seu meio de revistas e jornais, aproximando-se muito mais das séries de TV e do cinema, mas sem perder seu mito pop. Talvez por isto as melhores coisas que o cinema comercial produz ultimamente sejam as adaptações das HQs de super-heróis.
O cinema nasceu comercial e, a despeito de uma série de diretores que conseguiram desenvolver o chamado cinema de arte, de Bergman e Fellini a Peter Greenaway e Almodóvar, é disto que se trata, uma imensa indústria de entretenimento. Não acho esta definição algo absolutamente depreciativo. Recordo-me de um gibi em que o Surfista Prateado dizia aos seres humanos: "A vida é imensa e complexa - acontece dentro e à margem dela mesma."
Toda HQ traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Os filmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente sem eles não ocorreria: a formação de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais heróicos da antigüidade ao homem moderno. Fellini afirmou uma vez que Stan Lee, o criador da Marvel e de diversos heróis populares, era o Homero do quadrinhos.
Toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social. Homem-Aranha é um Nerd, Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um deficiente, os X-Men são indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alenígena expatriado. São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana.
Não se ama um herói pelos seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles crescem dentro do gosto popular.
(Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o sistema vigente tendem a se tornar meio babacas, como o Tocha-Humana ou o Capitão América)
O cinema de Hollywood tem a função de nos mostrar até onde alcança o inconsciente coletivo, o topo do lugar-comum, aquilo que a sociedade espera dela mesma (o que, às vezes, nos traz boas surpresas); e os super-heróis, hoje superstars, são mitos oriundos de experiências feitas em laboratórios do submundo, a velha sub-arte das HQs, a santidade surgida do lixo. Hulk e Homem-Aranha são seres que criticam a inconseqüência da ciência, com sua energia atômica e suas experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva. Super-homem é aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo - e por isto talvez seja o mais popular de todos, mais popular do que os Beatles, que um dia disseram serem mais populares que Ele - em seu sacrifício solitário em defesa dos seres humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita. Humano e super-herói, como Gandhi.
Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heróis eu me lembro que todos temos um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solidão por um princípio.
Eu sempre me enterneço ao ver os X-Men, o Homem-Aranha ou o Super-Homem. Vejo diversas vezes, sei os diálogos. É verdade que há, entre esses filmes, alguns absolutamente lastimáveis; contudo, os filmes de super-heróis são a prova da sobrevivência deste mito em meio ao glamour e a indústria de "celebridades-miojo". Parafraseando o Surfista Prateado (e Deus queira que seja bem retratado nas telas...), é a negação do sistema, trazido dentro e à margem de sua grande indústria.
Tenho a raiva do Hulk, o mau-humor do Wolverine, a solidão do Super-Homem. Temos a tendência a atribuir nossos erros e defeitos à humanidade que nos comporta.
No entanto, vejo esses filmes e lembro-me que, ainda hoje, herói é humano.

sábado, setembro 06, 2008

Escravo-Rei


Na Babilônia,
um dia na vida
o escravo era rei.

No dia seguinte era morto.

Na Babilônia,
um dia na vida
o escravo cuspia na corte.

No dia seguinte era morto.

Na Babilônia,
um dia na vida
o escravo comia a rainha.

No dia seguinte era morto.

E o antigo rei, humilhado.
E os escravos ali, libertados.
E o povo de Babel, purificado.

Na Babilônia,
um dia na vida,
o escravo era dito BaalZebub.

No dia seguinte era morto.

No dia seguinte era morto.

No dia seguinte era morto.



(texto/desenho: Chuí)