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domingo, fevereiro 24, 2008

O Desenho

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À revelia da arquitetura,
é pelo muro
que ele nos procura.
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À revelia da cegueira,
é pela pele
que ele se esgueira.
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Redefine o seu braço, suas costas
ou sua paisagem veloz.
O que se tatua, o que se picha
é sua voz.
.
Por entre as nossas vias e veias
É o desenho
que ainda nos vê.

(desenho e texto: Chuí)

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Sêminu


Sêminu,
sua beleza emerge somente para submergir.

Para ser esquecida a tempo do mundo virar pó.
Para que a memória reencontre eternamente a ilusão.
Mas agora que desenho é esse
que foge desesperado sobre sua pele?
E então com que vestes cobrirei seus continentes?

Qualquer cor que se revele,
é sempre o branco brotando do preto.
Mesmo que todos pensem o contrário.

Você não se despe jamais.
Pois já é nascido.


(texto e desenho: Chuí)

sábado, fevereiro 09, 2008

Cordel Urbano V - Lamento de um Ateu no Ponto de Ônibus

Lamento de um Ateu no Ponto de Ônibus
(meio fado meio jazz cigano)

Canção dedicada aos canalhas profissionais
Dr. Hamer e Fabrício Carpinejar

Sempre que eu espero
o Parque Dom Pedro subir a Consolação,
vejo os cabelos dela se rabiscando na multidão.

Foi aqui neste ponto de ônibus
que eu beijei aquela morena.
E aqui mesmo eu deixei que ela me escapasse,
ai, meu Deus, que pena!

Ela estava de azul
e me perguntou sobre a linha nova do meio,
e eu lhe contei de um outro que era mais rápido
e vinha bem menos cheio.

Aí eu elogiei sua beleza,
seus olhos e sua pele de fogo.
E ela sorriu pra mim
e eu já percebi que ali tinha jogo.

Foi quando eu me arrisquei
e lancei o ósculo em sua boca.
E ela me recebeu sem defesas,
eu que não marco toca.

Ela disse que era Deus, um milagre,
que o destino era a gente ali se encontrar.
E eu acariciei suas coxas
e a chamei pra irmos a outro lugar.

Então ela me olhou
com uma expressão triste e um tanto esquisita.
Uma lágrima borrou seus olhos,
deixando-a ainda mais bonita.

Mas o diabo do lotação
chegou e ela subiu, disse: “tô atrasada”.
Vi seu semblante sumindo,
fundindo-se ao oco da madrugada.

Ai, meu senhor,
que milagre pode merecer um cara como eu?
Uma prova dada de que o mundo é bom,
quem dera eu não fosse ateu!

Ela falar de milagres
era o milagre em estado de realidade.
Mas eu era um moleque bobo,
de bobo que fui, fiquei na saudade.

Por isso eu fico parado,
de sol a sol, neste ponto de ônibus
até que eu aprenda a ser gente
ou me torne a isca dos urubus.

Fui fazer o meu tipo de “ninguém sabe o dia de amanhã”
Ela era mais esperta que eu, nem quis curar
este Don Juan.

Aqui nesta mesma via
eu ainda hei de avistá-la e sentir sua tez.
Mesmo que eu esteja idoso
ou rezando enfim pela primeira vez.

(Solo de violão no estilo Django Reinhardt)

Ai, meu senhor,
que milagre pode merecer um cara como eu?
Uma prova dada de que o mundo é bom,
quem dera eu não fosse ateu!

Sempre que eu espero
o Parque Dom Pedro subir a Consolação,
vejo os cabelos dela se rabiscando na multidão.
.
.
(letra&música&desenho = Chuí)