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quarta-feira, dezembro 24, 2008

Beijoculto


Amigos,

Este é o último post deste ano de 2008. E que ano bom.
O CD está concluído, os shows foram ótimos e minha pesquisa sobre o desenho tem me feito crescer muito. E os novos projetos, tantos. Agradeço muito aos amigos que compartilharam deste espaço comigo, e já anseio por novos diálogos e criações.
A vida segue tão bonita quanto terrível. Deixo aqui meus votos de muita coragem, serenidade e saúde para que, neste ano que pousa, possamos mudar algo importante nessa coisa toda sem deixar que essa coisa toda mude algo importante em nós.
Que o novo ano chegue novo como um sorriso e velho como um compadre.
Abaixo um poema de esperança.
Bons rituais a todos!
Fernando Chuí


Beijoculto

Não está dentro.
Nem fora.
É um deslize
nas esquinas do projeto.

Não está além.
Não está implícito.
É um erro lindo
nas entrelinhas do desejo.

Não está visível.
Nem invisível.
É um desvio ritual
por entre as dobras do metal.

Só nós dois sabemos.
Só nós dois podemos.
Estamos salvos.

Pois ali jaz um beijo.



(texto e desenho de Chuí/clique na imagem para ampliá-la)

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Memória de Desenho


"- Pai, o demônio existe de verdade?
- Não, fio, não se ´ocê não olhar pra ele. E segue andan´u que em u´a hora a gente tá em casa.
- Tá bom, pai. Ma´ é que eu tô c´uma fome danada..."

Memória de Desenho

Fiz este desenho de memória ontem à tarde.

É curioso que, em desenho, chama-se "de memória", aquele que não parte da observação direta de um objeto. Qualquer forma de invenção figurativa no desenho leva o nome de memória. Estimulado pelo trabalho de um aluno de desenho que tive recentemente, um rapaz talentosíssimo - que trabalha como vigia noturno - criador de incríveis paisagens de memória em caneta BIC, fiz esta cena rural. Memória de um lugar que eu nunca fui, diga-se.

Só depois de finalizar o desenho, lembrei-me que eu passava por uma estradinha parecida com esta no Embu quando criança. Ao irmos para a chácara que tínhamos lá, meu pai sempre dava carona em nosso fusca para famílias como esse pai e esse filho da imagem. Confesso que eu, garoto, detestava. Ficava incomodado com pessoas estranhas ao meu lado, com cheiro de lama. Mas meu pai continuava levando essa gente pra cidade. À época, ele tinha ainda esperança em um país solidário.
Mas memórias nos levam a ver a mudança das coisas à nossa volta. Um dia, ao descrever já adulto o caminho para o Embu a uma amiga que viria à chácara, disse que era uma estrada de terra. Ao passarmos por lá, vimos que não havia nem sinal dessas estradinhas. Elas foram todas asfaltadas. E meu pai já não cogita dar caronas pelas estradas estatisticamente perigosas do Embu.

Junto com a lembrança da estradinha surgiu este mini-conto que postei acima. Pensei que memória, como no desenho, é sempre invenção.

Por isso, não vejo nada mais honesto do que lembrar bem das coisas. Com isso, quero dizer, lembrar as coisas para o bem - seja lá o que isso queira dizer. Quiçá pinçar as minúcias poéticas de cada experiência guardada na mente neurótica pra compor um cenário - senão justo, senão limpo, senão puro - ainda belo. E beleza, segundo o escritor francês Stendhal, é uma promessa de felicidade.

Pois se memória é invenção, o passado é uma ficção; e mais do que justos, creio que podemos ser bons escritores, bons desenhistas nesta vida. Para mim, estradas de terra continuam a ser percorridas a pé somente por famílias justas, belas e fortes. É o que o desenho me faz lembrar.

É a felicidade que eu inventei.


(textos e desenho de Chuí - clique na imagem para ampliar)

segunda-feira, novembro 24, 2008

Work in progress: Título / Capa do Disco Novo




Amigos,
O disco novo está quase pronto.
Devo confessar que o rock desta vez é a estética preponderante, em guitarras e baterias que agora me aproximam mais deste estilo de música cantada oriundo da língua inglesa (a canção é sempre o produto de uma língua).
Também percebi - a posteriori - que, das 13 canções gravadas, praticamente todas elas tocam em um tema comum: o mito; e como ele nos une ou nos separa dentro da metrópole.
Desta junção de rock, mito e nós mesmos, veio a idéia do nome: "Me & Tu".
Me(leia-se "mi" - mim em inglês) & Tu (você). O som ao se falar soaria como Mi-tu, ou seja, com a contração natural do "ó" em "u", soaria "Mito" - e também "eu e você". Gosto da idéia de uma palavra que ganha seu sentido somente no momento em que se pronuncia. Bom, é estranho de toda forma explicar um título, mas enfim, cá estou.
Deixo aberto aqui para opiniões sobre o título, gostaria de saber a impressão de todos sobre ele e sobre a capa que vem sendo feita aos poucos.
Acima o processo da capa até então: um auto-retrato, uma primeira idéia e o atual momento gráfico para chegar a ela.
O que vocês acham?
Beijos a todos,
Chuí

terça-feira, novembro 18, 2008

DOM DO CIÚME - SESC CAMPINAS


Amigos,
Não tive tempo de divulgar, mas aqui está o convite para a última apresentação do ano do espetáculo DOM DO CIÚME. Nesta edição que será realizada no teatro do SESC Campinas, receberemos à festa da música e da literatura o escritor Luiz Roberto Guedes.
Beijos a todos,
Chuí

sábado, novembro 15, 2008

Eu e a Bola


Juro: mais do que desenhar o Popeye e a Graúna, mais do que fazer dobraduras, mais do que comer azeitonas verdes, quando eu era garoto nada me dava mais prazer do que jogar bola.
Nada original neste país, admito. Mas deixemos claro que jogar bola é muito diferente de futebol. Futebol requer regras claras e pessoas em busca de um resultado coletivo. Jogar bola não, faz parte do campo das fantasias individuais. Eu, como tantos brasileirinhos, jogava bola todo o tempo.
Uma diferença, talvez. Como eu passava muito tempo sozinho em casa e não podia estar no campo com gente de verdade, eu jogava sozinho no meio da sala, com bola invisível, gramado, traves e imensas torcidas imaginárias. A sala era a folha de papel para meus desenhos das jogadas.
A minha bola parecia-se muito com aquela que seguia as legendas daqueles desenhos animados cantantes. Algo entre branca e incolor, como um fantasminha camarada.
Quando eu estava no carro, minha bola imaginária saía do meu pé, rebatia nos postes das ruas e voltava. Ninguém percebia as minhas embaixadinhas constantes por baixo do banco. As regras se refaziam a cada instante.
Somente uma era permanente e irrevogável: todo dia, eu deveria driblar o time inteiro e fazer um gol incrível seguido de uma comemoração como o da quebra de mil anos de abstinência de títulos.
Juro: eu pulava nas almofadas da sala, rolava pelo tapete da entrada, ralava o joelho nos tacos de madeira. Ninguém nunca viu, só meus amigos animados.
As paredes eram os zagueiros e a trave era a porta de vidro que dava para o quintal.
Meu jogo nunca acontecia no quintal, meu estádio era a sala e minha platéia era a tela da TV ligada em desenhos animados de Hanna Barbera como Chuvisco, Plic&Ploc e os Jetsons. Eu jogava pra galera - da Barbera.
Quando eu comecei a jogar de verdade com meu irmão e os caras da rua, eu era o menor de todos e sempre ficava restrito à defesa. Todo mundo fazia gols e eu recebia aquele tapinha nas costas e frases de consolo como “foi bem hoje, Fê” ou “o Fê marca direitinho”. E minha artilharia seguia crescente no campeonato estadual da sala de TV.
Mas aconteceu de eu ir crescendo e o pessoal da rua foi me dando mais espaço na linha.
Deixei a defesa e fui pro ataque. Nunca fui bom de estratégias. Meu universo particular não me desenvolvera táticas. Minha miopia atrapalhava a visão de jogo. Estraguei muitas jogadas por conta de meu não-futebol. Mas percebi que eu tinha um arranque bom e o sonho de dançar a la Garrincha. Fiquei bom de drible. E aprendi a chutar com as duas pernas. Fazia mais gols até com a canhota.
E um dia, juro: eis que aconteceu. Eu jogava contra um time de “maloqueiros” – era como o pessoal chamava os garotos pobres que jogavam com a gente no parque –, saí da pequena área com a pelota, driblei todo o time adversário e fiz o gol. Inacreditável, mas eu juro que foi assim.
“Aê, Fê!”, “Boa, Fê!”, “Golaço, Fê!”. Descobri aos treze anos que eu podia fazer aquilo mais vezes. Durante um tempo, fiz vários desses gols.
Apenas uma coisa não se repetia. A comemoração.
Alguma coisa não me deixava celebrar de forma efusiva. Sei lá.
Lembro-me bem de um garoto na minha classe do colégio, o Giuliano. Ele nem era craque, mas fazia muitos gols. Enquanto ele era o pecado da preguiça, o conhecido "banheira", eu era justo, dava "assistência" e voltava pra defesa depois do nosso ataque; e enquanto ele era o pecado da gula no meio da quadra, o famoso “fominha”, eu sempre passava a bola, era solidário.
Só uma coisa destruiria por completo minhas pretensões de atingir o meu ideal de nobreza humana. A cada gol que Giuliano fazia, ele comemorava loucamente, dando voltas pela quadra; seu rosto inchava, vermelho sanguíneo de satisfação e todos os garotos corriam atrás dele pulando sobre suas costas. Eu, quando fazia gols, corria lenta e sobriamente para o lado da quadra, como um soldado raso ao cumprir sua tarefa.
Giuliano era ira e soberba nas comemorações ao redor da quadra do Colégio. E eu, que almejava a estética humilde, cristã e límpida, por dentro era a inveja e a avareza olhando seus pulos de luxúria com o grupo.
Em algum momento de minha formação, devo ter incorporado uma idéia de que comemorar era algo pouco nobre. E isto se seguiu por muito tempo.
Vejo agora que os momentos vitoriosos são diamantes montados em relâmpagos; e celebrá-los é parte essencial dos partos de nossas experiências. Aos poucos perdi meu arranque, minha miopia aumentou. E com os anos, até mesmo o campeonato estadual da minha sala foi aos poucos perdendo a torcida animada que deu lugar a outras cores e melodias em minha vida.
Todavia nada disso importa agora, já que hoje em dia eu raramente jogo uma bola. Nunca mais vi o menino Giuliano dentro ou fora de campo. Nem sequer vejo mais futebol. Nem desenhos animados. Nem TV.
Acho que afinal eu nunca joguei futebol. Porém preservo a memória da bola invisível. Sei que ela está ainda aqui. Nem acredito que as memórias da nossa infância existam para que aprendamos lições com elas; acho que elas são como sonhos que a gente interpreta cada vez de uma forma e jamais se lembra de tudo.
Mas juro: a cada dia eu venho aprendendo a comemorar melhor os gols e pecados que hoje faço.


(texto e desenho de Chuí)

terça-feira, novembro 11, 2008

Entrevista a AIC - Sobre a Canção


Amigos, a vida, o trabalho e a pesquisa não têm me deixado tempo para o prazer da escrita/desenho/diálogo neste blog, mas divulgo aqui esta breve entrevista a respeito da oficina de canção que dei a Marcia Mattos, a assistente de comunicação da Academia Internacional de Cinema, onde serão realizados os encontros.
E em breve retomo o blog com a devida constância...
Beijos a todos,
Chuí

AIC: Olá, Fernando
boa tarde! Obrigada por sua colaboração, viu?

Chuí: Marcia, eu que agradeço.

AIC: Por quê uma Oficina de Canção?

Chuí: A canção é um dos elementos culturais mais presentes na memória e no cotidiano das pessoas nos últimos 100 anos e, ao mesmo tempo, é uma linguagem em si um tanto quanto mal compreendida. Não se encaixa realmente no terreno da música nem no da poesia e, no entanto, quando nos referimos a ela, falamos de música e poesia, sem nos darmos conta a respeito de que se trata.
A idéia de uma oficina de canção não é definir um conceito como quem definisse uma resposta fechada, mas reavivar a canção como uma experiência viva e social, refletindo sobre sua história, abordando teorias que respaldem a compreensão e fruição do tema para a realização de criações musico-literárias.

AIC: O que devem esperar os alunos desta oficina?

Chuí: O meu desejo é que os participantes façam comigo uma reflexão coletiva sobre o lugar e o sentido da canção nos dias de hoje e, sobretudo, que juntos inventemos novas canções a serem apresentadas ao final dos encontros. O curso pode até estimular novos compositores, mas a idéia principal é trazer a criação de canções como uma experiência coletiva de criatividade e de fruição do enorme legado de nossos cancionistas. Para tanto, precisamos às vezes recorrer à história e à teoria. É claro que sem jamais nos desvencilharmos da canção viva, algo a ser cantado, alegrado, rememorado.

AIC: Existe fórmula para escrever uma boa canção?

Chuí: Certamente que não. Assim como não há fórmula para uma suposta boa arte em nenhum campo de sua criação. Não há equação que nos levasse a Adoniran Barbosa ou a Bob Dylan, assim como a Drummond ou a Van Gogh.
Mas há maneiras de compreendermos/apreciarmos mais as suas cores, e há dinâmicas possíveis para vivenciarmos a canção por novos processos, para quem sabe reconstruirmos ali o sentido de se cantar versos.

AIC: De que tipo de experiência se extrai inspiração para criar uma melodia original?

Chuí: Em canção, a melodia é apenas um dos vários elementos que lhe conferem expressividade.
Existe a letra - que traz uma forma poética ligada à fala -, o arranjo - que é aberto -, o acento do cantor, etc. A combinação de todos estes fatores é que nos faz gostar de uma música mais do que de outra. No cancioneiro popular - em sua maior parte - há pouco que pudéssemos definir como definitivamente original em termos de melodia.
A música popular é, em si, uma arte de redundâncias onde a originalidade se dá por meio de sutilezas e escolhas pessoais. Mesmo em obras de compositores melodicamente geniais como Tom Jobim, é difícil definir originalidade. Ele mesmo foi processado por algumas vezes - nunca perdeu, diga-se - por plágio por conta da forte semelhança de algumas de suas melodias com as de determinadas canções do jazz.
E inspiração, para mim, é fruto do trabalho contínuo e do diálogo com o mundo.

AIC: Qual a liga necessária para o casamento entre a letra e a canção?

Chuí: Também não vejo uma resposta simples para essa questão. Mas de um forma geral, esta é uma preocupação com a prosódia, que diz respeito à combinação das melodias com o acento e a entoação presentes na letras - que tem ligação direta com a fala.
Em geral, é bom evitar choques entre a melodia(música) e o acento natural da fala(letra). Também é legal evitar letras cujas sílabas poéticas não se encaixem numericamente nas notas da melodia. Mas há diversos casos de grandes canções com erros de prosódia e tantas outras que a melodia se prolonga depois da sílaba final. Acho que não há regras, o mistério da beleza das coisas se dá à revelia da técnica.
Mas toda essa conversa só faz sentido se pudermos sair do terreno da lógica e adentrarmos o campo da experiência, esta, que é afinal a proposta desta oficina.

AIC: Um abraço e muito obrigada!

sexta-feira, outubro 03, 2008

2 poemas para 1 desenho


I

É um mistério que você seja
motivo e remédio do meu sofrer.
Quando da minha festa, some.
Quando da minha perda, lá está.
Nenhuma paixão duraria
Sem uma promessa descumprida.

Você procura outra vida
nos dias em que eu transbordo.
Nenhum amor sobrevive
sem uma ponta de calúnia.
Você que é tão mais egoísta,
tão mais generosa.

Almas gêmeas o escambau,
torres gêmeas etcetra e tal.

Chame neurose, dialética, estupidez.
Mas me desequilibre, amor.
É preciso evitar a queda.

II

No hay tormento, ni espanto.
Eres solamente una estrada
Sin nubes, sin cielos,
Solamente una estrada.
Sin miedos, sin poderes,
Una estrada.

Sin carros, sin freos o velocidad.
Una estrada lilas.
O no. Cualquier color que te guste.

Sin memoria, sin destino.
Una estrada pronta. Basta olvida-la.

No sé que se pasa en su distancia.
Pero presumo, invento.
Su desnudez me cala, su suelo sin cactus,
charcos o lluvias.
Descubro que tengo pies
En el día en que estoy
prohibido de pisarte.

Y la luz.
Esta es de un silencio mortal.


(Desenho de Chuí realizado ao vivo
na Apresentação DOM DO CIÚME - SESC Sorocaba)

quarta-feira, setembro 24, 2008

DOM DO CIÚME no SESC POMPÉIA


Amigos,

Depois de duas apresentações deliciosas no SESC Pinheiros e no SESC Sorocaba, o DOM DO CIÚME mostra sua cara no SESC Pompéia.
Desta vez, além de muita música e cantoria, eu e Mona Gadelha assumiremos a leitura de trechos de Dom Casmurro de Machado de Assis, alternando-as com novas canções relacionadas ao ciúme Casmurrento. E em meio a tudo, um desenho a nanquim se fará projetar ao telão...
Será às 18 hs e a entrada é franca, na choperia.
Venham todos à celebração musical do amor paranóico. Estou certo que Machado não negaria que "por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz..."

Beijos a todos,

Chuí

Outubro de SAMBLUES!


Pessoal,
SAMBLUES! em outubro na área:

Dia 1 - no New Jazz Bar
Dia 9 - no Syndikat Jazz Club
Horário: 21:30hs

Eu, Guapponi e a guitarra fervente de Danny Vincent fazemos a JAM mais mestiça da cidade nos dias 1 e 9 de outubro, em duas das melhores casas de jazz de São Paulo.
Muito samba ao acento blues/jazz, músicas minhas, improvisações livres, etc...

Venham!

Beijos do Chuí

Oficina de Canção na Academia Internacional de Cinema



Amigos,
Não costumo divulgar meus cursos neste blog, mas farei aqui uma exceção, dada a natureza desta nova empreitada...
Em novembro, ministrarei uma oficina de canção na Academia Internacional de Cinema (AIC)- em Higienópolis -, a belíssima escola profissionalizante em cinema, e que também traz cursos de criação literária, área onde se abrirá este curso.
Serão 4 encontros onde pretendo abordar a canção ao longo da história, teorias referentes a esta e, sobretudo, propiciar a criação de canções entre os participantes.
Não é necessário que seja músico ou ter formação na área.
Convido a todos para participarem desta experiência musico-literária comigo.
Peço também ajuda na divulgação desta oficina - aos amigos, amigos de amigos, etc.
Estou certo de que será muito legal.
As informações vão no flyer acima (basta clicar sobre a imagem que ela se ampliará).
Beijos a todos,
Chuí

segunda-feira, setembro 15, 2008

Fresta! na UERJ - Herói é Humano


Amigos,
Fiquei sabendo por intermédio de três gentis estudantes - Thales, Rafael e Pâmela - que um dos textos deste blog (postado em 21 de dezembro de 2006) foi publicado na prova do vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), realizada por eles há alguns dias.
Pelo que entendi, o texto não estava na íntegra, por isso resolvi postá-lo novamente aqui para os leitores novos e aos antigos que, por ventura, não o tenham lido.
Acima, um desenho de 1993 de uma história que eu fazia com o Beto, um amigo da faculdade.
Thales, Rafael e Pâmela, obrigado pelo toque.
(e mandem-me e-mails para retorno, ok?)
Beijos a todos,
Chuí

Herói é humano

Quando eu era criança eu passava todo o tempo desenhando super-heróis.
Eu fazia assinatura das revistinhas da Marvel e aguardava ansioso pelos gibis SuperaventurasMarvel, Homem-Aranha, Heróis da TV e Hulk, além de comprar na banca de jornal as séries do Batman e do Super-homem.
Para quem não é formado por esta literatura, é preciso explicar de que se trata. É a arte seqüencial, definição do gênio Will Eisner, que flerta com o infantil e com o adulto ao mesmo tempo.
Esteticamente, as HQs de super-heróis também têm algo de paradoxal. Por um lado, elas se propõem a uma seriedade digna de uma Odisséia, e, por outro, apresentam-se com desenhos cheios de balõezinhos que tornam quase impossível a tarefa de se escapar do kitch. Seus desenhistas trabalham as figuras todas em proporções realistas e, não obstante, não conseguem escapar da sua caricatura de nanquim. Com o advento das graphic novels dos anos 80, criou-se uma legenda de que então as HQs finalmente assumiriam seu posto de arte de boa qualidade. Todavia, não acho que a tal qualidade estética das ditas HQs adultas seja o maior legado das histórias de super-heróis. O cinema, sim, resgatou delas a sua essência, algo como o kitch-cult.
Toda HQ de super-heróis retrabalha, como evidencia o próprio nome, o mito do herói.
Recorro - mais uma vez - a Joseph Campbell que diferenciava as duas figuras públicas: o herói (figura pública antiga); e a celebridade (a figura pública moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. Gandhi disse que, quanto maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como Batman.
Por trabalharem sob uma narrativa progressiva e cíclica, e serem tecnicamente mais ambiciosas do que as outras modalidades de HQs, as histórias de super-heróis se deslocaram de seu meio de revistas e jornais, aproximando-se muito mais das séries de TV e do cinema, mas sem perder seu mito pop. Talvez por isto as melhores coisas que o cinema comercial produz ultimamente sejam as adaptações das HQs de super-heróis.
O cinema nasceu comercial e, a despeito de uma série de diretores que conseguiram desenvolver o chamado cinema de arte, de Bergman e Fellini a Peter Greenaway e Almodóvar, é disto que se trata, uma imensa indústria de entretenimento. Não acho esta definição algo absolutamente depreciativo. Recordo-me de um gibi em que o Surfista Prateado dizia aos seres humanos: "A vida é imensa e complexa - acontece dentro e à margem dela mesma."
Toda HQ traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Os filmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente sem eles não ocorreria: a formação de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais heróicos da antigüidade ao homem moderno. Fellini afirmou uma vez que Stan Lee, o criador da Marvel e de diversos heróis populares, era o Homero do quadrinhos.
Toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social. Homem-Aranha é um Nerd, Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um deficiente, os X-Men são indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alenígena expatriado. São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana.
Não se ama um herói pelos seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles crescem dentro do gosto popular.
(Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o sistema vigente tendem a se tornar meio babacas, como o Tocha-Humana ou o Capitão América)
O cinema de Hollywood tem a função de nos mostrar até onde alcança o inconsciente coletivo, o topo do lugar-comum, aquilo que a sociedade espera dela mesma (o que, às vezes, nos traz boas surpresas); e os super-heróis, hoje superstars, são mitos oriundos de experiências feitas em laboratórios do submundo, a velha sub-arte das HQs, a santidade surgida do lixo. Hulk e Homem-Aranha são seres que criticam a inconseqüência da ciência, com sua energia atômica e suas experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva. Super-homem é aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo - e por isto talvez seja o mais popular de todos, mais popular do que os Beatles, que um dia disseram serem mais populares que Ele - em seu sacrifício solitário em defesa dos seres humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita. Humano e super-herói, como Gandhi.
Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heróis eu me lembro que todos temos um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solidão por um princípio.
Eu sempre me enterneço ao ver os X-Men, o Homem-Aranha ou o Super-Homem. Vejo diversas vezes, sei os diálogos. É verdade que há, entre esses filmes, alguns absolutamente lastimáveis; contudo, os filmes de super-heróis são a prova da sobrevivência deste mito em meio ao glamour e a indústria de "celebridades-miojo". Parafraseando o Surfista Prateado (e Deus queira que seja bem retratado nas telas...), é a negação do sistema, trazido dentro e à margem de sua grande indústria.
Tenho a raiva do Hulk, o mau-humor do Wolverine, a solidão do Super-Homem. Temos a tendência a atribuir nossos erros e defeitos à humanidade que nos comporta.
No entanto, vejo esses filmes e lembro-me que, ainda hoje, herói é humano.

sábado, setembro 06, 2008

Escravo-Rei


Na Babilônia,
um dia na vida
o escravo era rei.

No dia seguinte era morto.

Na Babilônia,
um dia na vida
o escravo cuspia na corte.

No dia seguinte era morto.

Na Babilônia,
um dia na vida
o escravo comia a rainha.

No dia seguinte era morto.

E o antigo rei, humilhado.
E os escravos ali, libertados.
E o povo de Babel, purificado.

Na Babilônia,
um dia na vida,
o escravo era dito BaalZebub.

No dia seguinte era morto.

No dia seguinte era morto.

No dia seguinte era morto.



(texto/desenho: Chuí)

domingo, agosto 31, 2008

DOM DO CIÚME - SESC Sorocaba & SESC Pompéia


Amigos,
Convido a todos para o show híbrido DOM DO CIÚME que fará duas novas apresentações neste mês de setembro. Dia 4 de setembro, próxima quinta às 20hs, iremos ao SESC Sorocaba. Mais precisamente, será no Teatro Municipal de Votorantim (Av. Newton Vieira Soares, s/n Votorantim - Capacidade: 272 lugares / *Os convites serão distribuídos gratuitamente no local uma hora antes do espetáculo).
E no dia 28, estaremos aqui em sampa, no SESC Pompéia.
Eu, Mona Gadelha, Luiz Ruffato, Anderson Toledo & VJ MRs manteremos a festa de música, literatura e desenho à luz de Machado de Assis.
Espero vê-los por lá para que sue se repita a maravilha que foi o primeiro.
Beijos a todos,
Chuí

domingo, agosto 17, 2008

O Astronauta


(escrita inside/outside)
,.

O mal do mundo
– 0 ast – são dois:
a malandragem e a dissimulação.
Os meninos aprendem a jogar bola
- uma casca dura e mole
ia colada à pele do astr -
e cada drible
dado e recebido
é uma aula de malandragem.

Meninos crescem malandros
- abriu os olhos maldizendo o mundo, o astro -
e sem tempo de contemplação.

Este tempo é
– parecia febre, mas era admiração
o que sentia o astron -

dado às meninas desde que recebem a primeira boneca
e observam os meninos jogando bola agressivamente,
enquanto brincam mansamente de
boneca e casinha e fogão e roupinha e
–saí da nave ou entrei na nave?, disse o astrona -
tudo aquilo que tem silêncio o suficiente
para aprenderem a vida interna da enganação.

A malandragem é somente
– ele entende seus movimentos,
não suas palavras, o astronau -

a vida externa da enganação,
porém são as meninas que desenvolvem dissimulação
por meio de bonecas e olhos de silêncio.

- ele vem do céu para nos redimir,
o astronaut –


Contudo, até uma mesma etapa da
existência, meninos e meninas têm
os olhos sequëstrados pelo mesmo casulo:
- O astronauta!
(Este ser que vive anos-luz
distante dos jogos e dos bonecos
em sua longevidade sem sexo)


(texto e desenho: Chuí)

domingo, agosto 10, 2008

Hasta el Fin


(Amigos, faço o retorno ao meu estimado espaço virtual com um desenho, uma história e uma canção)

Dias atrás, após uma canja danada de boa - como diriam os mineiros - com The Caviars e o bluesmaster Danny Vincent, ele me contou que afinal se redescobria na guitarra, atravessando madrugadas em sua verve; e que tocava agora mais intensamente do que jamais em sua vida. Na conversa a seguir com ele e Dr. Hamer, lembrei-me de uma frase que não soube dizer a autoria, mas que devo ter ouvido em algum filme ou devo ter inventado esse filme em minha memória para poder dizer essa frase.

- Só tem um jeito bom na vida de fazer
não importa a coisa que você queira: Até o fim.

Dannito entendeu, seus olhos entenderam. Resolvemos que começaríamos a pensar um show que unisse nossas origens e nosso blues. No dia seguinte, uma canção saltou diante de mim.
E, ineditamente, em espanhol. Será uma série de canções em espanhol, ligando minha canção às origens de Danny ao blues e à canção latina.
Abaixo vai a letra (aos que, por ventura, não puderem compreender, posso enviar-lhes uma tradução):

Hasta el fin

No creo, tú sabes, en nombres y cifras
Si estos no habitan las calles del sueño
La vida decide el destino a los ojos
Pero solo tú mirarás su diseño

Miré tus ojitos de espasmo, miré
tus manos de augurio y lo comprendí
Despiertas ahora di tantas palabras
Calumnias de caos disfrazadas de ti

Despierta ahora, mi niño
Despierta de tanta civilización
Aunque me descubras triste
Aunque me sepas ficción
Solo hay una manera buena en la vida
de hacer no importa la cosa que quieras
Hasta el fin, mi hermano
Hasta el fin, mi amor, Hasta el fin


No creo, tú sabes, en armas de fuego
Mi arma es el arte, es nuestra aventura
La guerra decide el destino a los ojos
Pero solo tú mirarás la pintura

Quizás caminando sin dueño y sin patria
Cual perro ofertando cariños al viento
Crecer tan leve como un pajarito
Despuntar tan alto como un pensamiento

Despierta ahora, mi niño
Despierta de tanta civilización
Aunque me descubras triste
Aunque me sepas ficción
Solo hay una manera buena en la vida
de hacer no importa la cosa que quieras
Hasta el fin, mi hermano
Hasta el fin, mi amor, Hasta el fin



Obs: gracias a Marianita pela correção do espanhol
(desenho e texto: Chuí)

segunda-feira, julho 21, 2008

DOM DO CIÚME - Show no SESC Pinheiros nesta sexta!



Amigos,
Nesta quinta, dia 24 de julho, convido a todos para celebrarmos Machado de Assis em novos meios. É às 20hs no Sesc Pinheiros, que fica na rua Paes Leme, 195.
Concepção da cantora Mona Gadelha, o show é uma interpretação musical de Dom Casmurro de Machado de Assis. O poeta Fabrício Carpinejar fará declamações e eu e Mona Gadelha - acompanhados do pianista Anderson Toledo - cantaremos músicas minhas, de Lupiscínio Rodrigues, Roberto Carlos, Chico Buarque entre outros que leram, em forma de canção, o tema ciúme.
Após a música, haverá um debate sobre o tema com Carpinejar e o escritor Luiz Ruffato. Durante a conversa, realizarei desenhos em nanquim projetados ao vivo em um telão.
Venham! Aposto que os que não vierem vão ficar com ciúmes...
Beijos a todos,
Chuí
(Sesc Pinheiros: rua Paes Leme, 195 - Pinheiros - São Paulo - SP
telefone: 11 3095-9400 - Dia 24 de julho de 2008 - 20h)

sexta-feira, julho 04, 2008

SAMBLUES! - Quarta, 9 de julho


Amigos,

O Blog está pouco ativo, dadas as mil coisas da vida ( retomarei-o muito em breve), mas o Samblues é aquele que tarda mas não vaia. Eu e Guapponi com novas e velhas versões de sambas regados ao nosso acento de blues paulistano. Como sempre Guimets na guitarra quebrando tudo, menos a poesia.
É nesta quarta-feira, dia 9 de julho de 2008 no bom e velho SYNDIKAT Jazzclub & Bar. Fica ainda na Rua Moacir Piza, 64 - Cerq. Cesar/Jardins.
Para reservas, é preciso ligar no telefone 3086-3037 (www.syndikat.com.br/html/reserva.html)
Espero muito tê-los por perto em mais esta celebração.

Beijos a todos,

Chuí

domingo, maio 25, 2008

Perfeição

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Há, na história humana,
quem já tenha almejado um mundo perfeito.
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Outros tantos têm menos ambição:
desejam apenas um corpo perfeito,
um emprego perfeito
ou um amor perfeito.
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Mas há uma triste distorção desta idéia: a perfeição.
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Costumamos tratá-la como algo a se perseguir e se conquistar -
algo como uma ilha que, se alcançada por nossas caravelas,
nos redimiria de nossa miséria e de nosso tédio.
Algo a se copiar de capas de revistas
e de propagandas de TV, como se o vazio
de uma imagem manipulada pudesse preencher
o vazio de nossas almas neuróticas.
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Mas a perfeição não se aponta aos olhos de alguém:
revela-se no convívio. Porque perfeição
pertence ao terreno da ética - não da ótica.
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Jamais segrega: une.
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É que a perfeição jamais se doutrina: é uma descoberta
de nossos corpos no espaço. Porque perfeição
pertence ao terreno da estética - jamais da estática.
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Jamais corrige: ilumina.
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Mais próximo da luz do fogo e do desenho da água
do que da fusão de uma liga metálica, a perfeição
é mais a dança que nos revela
do que a engenharia que nos constrói -
não é nunca um círculo perfeito, senão uma forma
que se nos encaixa por um segundo.
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Porque a perfeição é do campo do instante.
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Filmes e livros e preces em lugares de aconchego.
Jantares regados de risos com bons amigos.
Uma velha canção no rádio invadindo a madrugada.
Sexo com quem se ama.
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A visão do sorriso de um bebê.
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Perfeição é a alegria que não ignora a dor.
Bem mais próxima do prazer
do que da felicidade -
esse sonho de consumo.
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A perfeição não é um ponto de vista,
é um ponto de partida. Sem ela, só há cinismo.
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Porque utopia não deveria ser um desejo,
mas um princípio.
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(texto e desenho: Chuí)

sábado, maio 10, 2008

Pocket Show no Clube Caiubi

Amigos,

Segunda agora, às 21:30, farei um pocket show no Clube Caiubi, que acontece agora no novo Villagio Café - na Rua Teodoro Sampaio, 1229.
O ClubeCaiubi existe já há alguns anos com mostras de diversos cancionistas novos e veteranos que encontram ali espaço para diálogo e arte em celebrações de amizade e admiração.
Apresentarei-me ao lado do Guapponi, fiel guardião, e tocarei músicas novas que pretendo gravar no CD novo. Logo após, vários compositores se alternarão no palco cantando suas próprias composições.
Será muito bom tê-los por lá!
Um grande abraço,

Chuí

domingo, abril 27, 2008

Lapidarium

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É na contra-luz que uma faca vem nos cortar.
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São gestos afiados, rápidos
como a visão do nosso reflexo na lâmina.
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Não lhe mostram de imediato a dor, tampouco o sangue.
E um oceano lhe invade a conta-gotas.
Parece violência.
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Mas é escultura.
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(texto e desenho: Chuí)

SAMBLUES! - SEXTA, DIA 02



Amigos,

Cá estamos outra vez, eu e meus guardiões Guapponi e Guimmets, em mais um ritual do Samblues.

Aos que ficam na cidade feriada, será nesta sexta, dia 02 de maio, às 22:oohs.

Novamente no charmoso Syndikat, nos jardins, Rua Moacir Pisa, 64 (vejam o convite acima).

Novas e velhas versões novas para clássicos do samba traduzidos ao idioma do blues e do jazz.

Será muito bom vê-los por lá novamente ou pela primeira vez!

Beijos a todos,



Chuí

sábado, abril 19, 2008

Mulher de Costas

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Que mentira seria descrever seus ombros.
Seus mapas, omoplatas, dobras de cócegas -
Paz e rubor.
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Que perda de tempo seria narrar o desenho doido
que trazem as tortuosidades da sua coluna cervical
às minhas digitais encabuladas.
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Tamanha falsidade seria então
traduzir suas margens
em teses de estética e anatomia.
Nada mais distante de você
do que uma tese.
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Meias verdades, talvez,
não nego uma porção considerável delas,
mas todas justificadas:
um plano para seduzi-la
onde tudo em volta se resume
àquilo que não foi dito.
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É como poesia e carne.
Um verso
pedindo que me mostre o outro.
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(texto e desenho: Chuí)

domingo, abril 06, 2008

Entrevista no site Ritmo Melodia



Amigos,

RitmoMelodia é um site que discute e divulga a música independente no país.

Nesta entrevista, conversamos sobre meu processo e sobre minhas percepções sobre a música popular contemporânea.

Convido a todos para entrarem e lerem:
http://www.ritmomelodia.mus.br/

beijos a todos,

Chuí
(foto: Vinícius Fênix)

Rufus e a caveira Luciel


- Já é noite, meu caro - murmura Rufus, o velho fauno gordo, a Luciel, sua caveira e amiga imaginária - Não há mais como negar: a vida me foi ingrata.
- Mas a vida não existe fora de você, Rufus. Porque personificas teu próprio fracasso?
- Cala-te, Luciel, Não me importa tua filosofia barata! - exalta-se o fauno - sabes bem que, da vida, eu tive apenas a ingratidão!!!
- Não posso deixar de dizer que isto é uma baixeza da tua parte, caro amigo.
- Como ousas dizer isso, tu que não passas de uma caveira rachada de novilho?
- Sim, é exatamente o que sou, mas isto não te redime da verdade que trago agora à tua vista.
- Do que falas, ó ignóbil ossada?
- Percebe, Rufus, que enquanto o sentimento de gratidão revela humildade, o sentimento de ingratidão revela vaidade. Gratidão se refere a nós quando aprendemos a viver. E ingratidão se refere ao outro que nos deveria a vida.
- Não tens compaixão? Dizes que sou vaidoso no momento em que sofro?
- Sim, pois a gratidão faz o desejo da homenagem. E a ingratidão faz o rabisco da dívida.
Enquanto sentir gratidão é estar vivo, sentir ingratidão é morrer em pílulas.
- Tu me entornas a traição em forma de retórica, Luciel...Tu és quem não possui gratidão! Tu és quem deveria morrer!
- Amo-te, Rufus. E é disto que se trata a gratidão, uma carta de amor. Ingratidão, por outro lado, é uma via bancária. Enquanto sentir gratidão é uma forma de coragem, sentir a ingratidão é covardia.
- Tomas-me por covarde? Covarde? A mim, a quem tu deves a existência?
- Rufus, é exatamente o que quero dizer. Ninguém deve nada a ninguém. Pois é certo sentir-se grato. Mas não é errado não sentir-se.
Rufus esmaga o crânio do novilho com toda sua força até que seus pedaços de osso se esmigalham e escapam por entre seus dedos na forma de areia e minúsculas pedrinhas caindo e afundando sobre o pântano lodoso.
Antes de deixar o palco, Rufus se dirige ao público pagante nas primeiras fileiras e proclama, quase em um sussurro irônico:
- Quem diz a verdade deve estar disposto a pagar seu preço. E, verdade ou não, ela não passava de uma caveira.
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(texto e desenho: Chuí)

sábado, março 22, 2008

Os Nomes e as Coisas


Estranhamos as coisas que não possuem nomes
por não sermos capazes de lidar com o espaço vazio.

Perdemos tempo lançando nomes,
aprendendo nomes, trocando de nomes,
ofertando nomes, pagando por nomes,
negociando nomes, lucrando com nomes,
sempre em débito com nomes.
Como se, no final do mês,
um saldo positivo de sentidos e classificações
não esvaziasse a conta de nossa própria experiência
através de nossos bolsos puídos.

E, sem que se troquem as letras,
os nomes são sempre modificados.
Seus preços, suas metas, suas negociatas.

Coisas, coisas, coisas
ainda respiram e deixam de respirar
à revelia deste mercado de ações dos sentidos.

Fazemos da linguagem uma bolsa de valores.
Mas o sentido das coisas não é uma moeda estável.


Estável, somente o espaço vazio.
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(texto e desenho: Chuí)

quinta-feira, março 13, 2008

Neste Sábado - Tony Osanah e Samblues!


Amigos,

Neste sábado, a partir das 18hs, haverá um show gratuito do bluesman argentino Tony Osanah.
É um evento do projeto Fênix, a ONG que ajuda a escola Alves Cruz e onde dou também cursos de música já há alguns anos.
Eu e Guapponi vamos abrir a festa com nosso Samblues.
Espero que possam aparecer e fazer parte dessa Jam!
Endereço aqui no convite acima!
Beijos a todos,
Chuí

Song to Sylvia

Ariel, de Sylvia Plath, habitou a pia do banheiro por meses. De repente, surgiu a canção, na língua dela. O desenho veio depois de cantada a melodia.

"I know the bottom, she says - I know it with my great tap root."
("Eu conheço o fundo, ela diz - conheço com minha própria raiz")
Silvia Plath

Song to Sylvia

I know, my darling,
Your eyes are now a blur
You´re bleeding in the dark
behind the mask which hides your fur

And know, my sister,
That promises can´t keep
But hear the weeping rain
And see: the storm is only asleep

Foolish one, can´t you see?
there’s no myths or flowers for you to pick
My hands are burning, so take my eyes
And we dance into this hall of lies

One day, we’ll meet, baby
in the same flash of the night
where I don’t even know you
but I´ll recognize your bite

Someday, my darling,
You´ll be shining in your roots
your eyes will blink all diamonds
Breeze will whisper us shortcuts

Foolish one, can´t you see?
there’s no myths or flowers for you to pick
My hands are burning, so take my eyes
And we dance into this hall of lies
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(letra/música/desenho - Chuí)

domingo, fevereiro 24, 2008

O Desenho

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À revelia da arquitetura,
é pelo muro
que ele nos procura.
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À revelia da cegueira,
é pela pele
que ele se esgueira.
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Redefine o seu braço, suas costas
ou sua paisagem veloz.
O que se tatua, o que se picha
é sua voz.
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Por entre as nossas vias e veias
É o desenho
que ainda nos vê.

(desenho e texto: Chuí)

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Sêminu


Sêminu,
sua beleza emerge somente para submergir.

Para ser esquecida a tempo do mundo virar pó.
Para que a memória reencontre eternamente a ilusão.
Mas agora que desenho é esse
que foge desesperado sobre sua pele?
E então com que vestes cobrirei seus continentes?

Qualquer cor que se revele,
é sempre o branco brotando do preto.
Mesmo que todos pensem o contrário.

Você não se despe jamais.
Pois já é nascido.


(texto e desenho: Chuí)

sábado, fevereiro 09, 2008

Cordel Urbano V - Lamento de um Ateu no Ponto de Ônibus

Lamento de um Ateu no Ponto de Ônibus
(meio fado meio jazz cigano)

Canção dedicada aos canalhas profissionais
Dr. Hamer e Fabrício Carpinejar

Sempre que eu espero
o Parque Dom Pedro subir a Consolação,
vejo os cabelos dela se rabiscando na multidão.

Foi aqui neste ponto de ônibus
que eu beijei aquela morena.
E aqui mesmo eu deixei que ela me escapasse,
ai, meu Deus, que pena!

Ela estava de azul
e me perguntou sobre a linha nova do meio,
e eu lhe contei de um outro que era mais rápido
e vinha bem menos cheio.

Aí eu elogiei sua beleza,
seus olhos e sua pele de fogo.
E ela sorriu pra mim
e eu já percebi que ali tinha jogo.

Foi quando eu me arrisquei
e lancei o ósculo em sua boca.
E ela me recebeu sem defesas,
eu que não marco toca.

Ela disse que era Deus, um milagre,
que o destino era a gente ali se encontrar.
E eu acariciei suas coxas
e a chamei pra irmos a outro lugar.

Então ela me olhou
com uma expressão triste e um tanto esquisita.
Uma lágrima borrou seus olhos,
deixando-a ainda mais bonita.

Mas o diabo do lotação
chegou e ela subiu, disse: “tô atrasada”.
Vi seu semblante sumindo,
fundindo-se ao oco da madrugada.

Ai, meu senhor,
que milagre pode merecer um cara como eu?
Uma prova dada de que o mundo é bom,
quem dera eu não fosse ateu!

Ela falar de milagres
era o milagre em estado de realidade.
Mas eu era um moleque bobo,
de bobo que fui, fiquei na saudade.

Por isso eu fico parado,
de sol a sol, neste ponto de ônibus
até que eu aprenda a ser gente
ou me torne a isca dos urubus.

Fui fazer o meu tipo de “ninguém sabe o dia de amanhã”
Ela era mais esperta que eu, nem quis curar
este Don Juan.

Aqui nesta mesma via
eu ainda hei de avistá-la e sentir sua tez.
Mesmo que eu esteja idoso
ou rezando enfim pela primeira vez.

(Solo de violão no estilo Django Reinhardt)

Ai, meu senhor,
que milagre pode merecer um cara como eu?
Uma prova dada de que o mundo é bom,
quem dera eu não fosse ateu!

Sempre que eu espero
o Parque Dom Pedro subir a Consolação,
vejo os cabelos dela se rabiscando na multidão.
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(letra&música&desenho = Chuí)

quinta-feira, janeiro 31, 2008

2008! - Samblues de Carnaval



Chega de pernas pro ar - não tem mais jeito: 2008 é fato.
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De volta às coisas da vida, de volta ao blog, de volta à música.
Nesta terça de carnaval às 21:30, um improvável Samblues ocorrerá no Syndikat, a charmosa casa de jazz que nos acolhe. Eu, Guapponi e nosso convidado essencial Guima voltaremos aos blues de Adoniran, Lupiscínio, Noel, Cartola, etc, etc, etc - prometemos novidades...
Aos que daqui não arredaram pé, venham todos os que imaginarem novas festas e novas visões para o samba, para além do enredo tradicional.
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Beijos a todos,
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Chuí