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segunda-feira, outubro 29, 2007

(Sam)Blues para Danny Vincent

Hey, Danny!
Onde é que tu vais com essa guitarra na mão?
- Eu vou embora pro Brasil
tocar o blues desde os pampas ao sertão...
Hey, Danny!
Onde é que tu vais com essa guitarra que levas aí?
- Eu vou embora pro Brasil,
tocar o blues do Oiapoque ao Chuí...
Hey, Danny!
Vais fugir do Tango e tocar música ianque no país do samba?
Quantos deslizes! Não sabes mais o que dizes?
- Guri, Blues é Samba, Samba é Tango, Tango é Blues.
São estas nossas melhores cicatrizes.
Quem não ignora suas dores
carrega suas próprias raízes...
Hey, Danny!
Você vai trocar a segurança do seu lar
Por uma confusão de pedra e mangue?
- Guri, só posso ler no destino
aquilo que está escrito, não se zangue...
Hey, Danny!
Pra quê tanta verve? Pra quê tanta gana?
Parece até que tu vais duelar num bangue-bangue!
- Guri, o Blues é um livro
Que só se escreve com seu próprio sangue...
.
Danny veio da Argentina para o Brasil há dezessete anos. O pai de Danny era um grande músico. Tocava Tango. Era amigo de Carlos Gardel.
Danny toca um outro tipo de melancolia: o Blues. E como.
Danny é um cara simples. Um gentleman. No último sábado, eu toquei com este pioneiro do blues paulista em meio a um Syndikat - a charmosa casa que acolhe o Samblues - lotado. Era pra ser umas duas ou três músicas, mas a sintonia não deixou. Foi quase metade do show. O público, em boa parte desconhecido de nós, entrou no show de vez já no meio da primeira entrada. O resto eu nem me lembro bem, pura festa.
Assim, Danny se juntou a mim, a Guapponi e a Guimets no Samblues. E a Django, Lupicínio, Rufus Thomas, Adoniran, Robert Jonhson, João Bosco, Ray Charles...
Blues e sambas, outros tangos. Novas mãos em novas luvas.
Como diria Danny, o argentino Daniel: Maravilloso, Chuy...
Foi a prévia do show que faremos dia 12 de dezembro na Praça da Sé, em um projeto da Caixa Econômica Federal que une músicos de gerações distintas. Chuí convida Danny Vincent – produção da Brazil Bizz.
Danny me contou que prepara seu próximo cd há seis anos. Disse que é a melhor coisa que ele já fez na vida. Ora, se neste trabalho ele tocar metade do que tocou no Syndikat este sábado, o disco deve entrar pra história do blues nacional.
História em que Danny certamente já tem seu capítulo garantido.


(imagem: colagem sobre foto de Danny Vincent, por Chuí)

domingo, outubro 21, 2007

Saturday Night Samblues!

Sábado que vem, dia 27 de outubro, Me & Guappones faremos a quarta edição do Samblues!
Com base no repertório dos três shows anteriores - Adonirans, Djangos, Cartolas, Rays, Lupicínios, etc... - e com a participação essencial de Guima na guitarra faremos uma apresentação que deverá ser a prévia de uma futura e breve gravação.
E uma outra participação, inédita: Danny Vincent, um dos pioneiros do blues paulista, se junta a nós em uma imodesta JAM...
Neste Samblues especial de sábado, espero poder rever a todos que já compartilharam desta mestiçagem musical.
O Syndikat é na Rua Moacir Piza, 64, nos Jardins (reservas: 3375-9185).
Será muito bom tê-los novamente por perto.
Beijos a todos e até lá!
Chuí

domingo, outubro 14, 2007

Ciência e Poesia - Último Refúgio

( Para meu pai Menezes, poeta e físico,
que me ensina a desvendar poesias e declamar teorias)


O que a ciência propõe demonstrar
a poesia dá à luz.

Se Einstein tivesse sido poeta,
subiria sobre a mesa do bar
para declamar em voz alta:

Deus não joga dados!

(E mostraria-nos a sua língua,
pois que pra isso é que serve a língua de um poeta)

Freud faria quiçá um recital, declamaria
junto a um coro de mulheres histéricas:

Nenhum ser humano é capaz
de esconder um segredo.
Se a boca se cala, falam
as pontas dos dedos.

Marx gravaria um folk-rock,
acompanhado de guitarra e gaita de boca.
Nas rádios, ouviríamos o refrão:

A estrada do inferno/ é pavimentada/ com boas intenções!
A estrada do inferno/ é pavimentada/ com boas intenções!


Descartes publicaria em seu blog um haikai:

Penso, logo existo.
Viver sem pensar é viver sem existir -
Ter os olhos fechados
sem nunca os haver tentado abrir.

Leríamos Pitágoras,
volumes infinitos de equações líricas:

O universo é uma harmonia de contrários.
O homem é mortal por seus temores
e imortal por seus desejos.


Ora, se Sócrates fosse poeta,
sua obra resumiria a história da filosofia
a um único verso concreto:
.
S e i

Q u e N a d a

S e i
.
Que a ciência nos resgate a poesia.
E vice-versa.
Pois a poesia está no cume da ciência.
Ela é seu último refúgio.
E não se pode ver onde é início
e onde é desfecho nesta montanha.
É tudo parte da vida que existe,
sem pensar.

Se Deus existir, decerto que é um poeta.
.
.
(texto e ilustração de Chuí)

quinta-feira, outubro 04, 2007

Da Claridade e da Escuridão



A claridade ilude:
porque nos distingue.

A verdade é o lugar
onde fatalmente
o nosso corpo irá se chocar -
uma parede dura
em constante mutação.

Mas não há nenhum mistério
que não nos revele
muito mais de nós mesmos
do que qualquer convicção.

A escuridão apavora:
porque nos iguala.


(Texto e desenho de Chuí)

quarta-feira, outubro 03, 2007

Sobre os Idiotas

“Fui vencido em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras.
Tentei salvar os índios. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente.
Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar dos que me venceram”.
Darcy Ribeiro


Mas que guerra é esta que travamos
diariamente contra os idiotas?
E de que são feitas essas criaturas sombrias,
agentes da estupidez e do cinismo,
se multiplicando feito girinos por todos os cantos?

Difícil definir, mas podemos perceber
ao menos duas categorias claras de idiotas:
Aqueles que agem deliberadamente sobre uma plataforma fascista
e têm uma clara visão imutável de hegemonia;
e aqueles que sequer têm idéia de onde estão
e aprendem a se matar por meio da morte dos outros
(estes costumam preencher a primeira fileira do pelotão).

Dos mais escancarados a violentar nosso trânsito
aos extremamente sutis, travestidos de cordiais,
não se pode afirmar ao certo qual é o mais nefasto.
Contudo, todo mal registrado na história da humanidade
advém de alguma dessas duas manifestações humanas.
Pois nossa luta é contra um circulo vicioso:
Todo idiotice produz mais e mais o mal.
E toda maldade produz mais e mais idiotas.

Nesta batalha, nossas armas não se chamam armas,
mas temos que conhecer suas potencialidades bélicas
pois estas se tornam letais nas mãos dos idiotas.
Por isso estudamos, para nos defendermos.
Por isso permanecemos de pé
pra não deixarmos ao futuro
somente a herança devastadora da obra dos idiotas.

Da cegueira à indiferença.
Do cinismo às armas de fogo.
Do elitismo ao autoritarismo.
Todas as armas deles são cunhadas
com o latão do desinteresse,
o bolor do ressentimento,
tudo embalado pelo papel da burrice
(o papel da burrice é muito grande ali
e com este devemos ter cuidado,
pois, não raro, costumam vir
disfarçadas de conhecimento).
As armas deles são tudo que tiverem à mão
para nos destituírem do brilho.
Porque brilhar dói demais
aos olhos de quem vive na escuridão.

Talvez a maior batalha contra os idiotas
seja a de não nos contaminarmos com sua peste.
Com sua inveja, seus preconceitos,
Sua raiva, sua frustração e, principalmente,
com sua poderosa e arcaica burrice.

Há quem diga
que eles são bem mais numerosos
e mais fortes do que nós.

Mas, sem dúvida alguma,
nós somos muito mais bonitos.

.

(texto e desenho de Chuí)