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domingo, outubro 29, 2006

Bitcho´s VIII


(Menezes e Regina vieram em casa pra celebrar esta maravilhosa eleição.
Desse encontro surgiu mais um dos nossos Bitcho´s.
A Marcia me diz que o nome Bitcho´s reflete nosso desejo de sermos uns vagabundos.)


Chelonia mydas


Minha carcaça se exibe

com tudo o que há no mundo.



Erra quem pensa

que isso é poder.



É sentença.


(Desenho: Fernando Chuí & Marcia Tiburi/Texto: Luis Carlos de Menezes/Nome científico: Regina Cândida Gualtieri)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Revista Cult - Nunca Vi Mandacaru

A Revista Cult fez uma matéria em seu site que me deixou comovido. Só posso agradecer e muito à Daysi Bregantini pelo apoio no lançamento deste trabalho.
Para os amigos que quiserem ler o artigo, o link é http://revistacult.uol.com.br/website/site.asp?edtCode=E277DF61-D718-4085-81BD-02A58A04F04C&nwsCode=DC1010F7-431B-4164-BBF9-5317E319505F, ou podem achar no site da Cult (http://revistacult.uol.com.br/website).
E deixo aqui um abraço especial ao Marcão.

(Imagem: foto do show de pré-lançamento do cd realizado em agosto da Livraria da Vila)

Fabrício Carpinejar e Fernando Chuí - Poesia Explícita! em Porto Alegre


Bah!
Dando continuidade aos shows, farei com meu parceiro de letras, canções e HQs, o querido poeta Fabrício Carpinejar, a nossa primeira apresentação pública juntos. Será na Câmara do Livro de Porto ALegre, dia 3 de novembro, próxima sexta à noite.
Fabro e eu dividiremos o palco, ora nos revezando em declamações e performances musicais, ora em inéditos duetos unindo as duas formas, apresentando textos e canções de nossos trabalhos mais recentes, o livro de crônicas "O Amor se Esquece de Começar", de Carpinejar, e o meu "Nunca Vi Mandacaru", em um diálogo de obras.
Entrelaçados pela poesia fundada a partir deste encontro de obras, apresentaremos momentos desta fusão estética, como as canções "O Amor Esquece de Começar", de Chuí, inspirada no livro homônimo; a canção "Telhados", feita sobre poema do poeta; "A Bela e a Fera", composta em homenagem ao extinto programa apresentado por Carpinejar da TV Unisinos; e "O Homem Precisa", a nossa inaugural parceria poético-musical.
Será bom barbaridade, tchê.

(Imagem: Carpim by Carpinejar & Chuí, 2006)

quinta-feira, outubro 26, 2006

Nunca Vi Mandacaru - Ao Vivo!


Eu me esqueci dos agradecimentos. Eu me esqueci de divulgar o site e o blog. Mas foi tudo muito perfeito.
Como havia prometido a pessoas queridas que não puderam vir ontem por serem de outros estados, vou contar aqui um pouco do que se passou na apresentação do Crowne Plaza.
A banda (formada por Humberto Zigler na Bateria, Igor Pimenta no Baixo e Guima na guitarra) foi absolutamente competente; concisa e também exuberante. Tivemos pouco tempo de passagem de som, o que me preocupou, mas na hora que começou, tudo se harmonizou perfeitamente. O Luís Bueno, violonista do super Duofel, me fez um comentário interessante sobre a sonoridade nova que percebeu por conta do posicionamento dos músicos no palco, onde a guitarra estava um pouco deslocada do restante da banda.
Os convidados foram um show à parte. Guappo fez crescer lindamente a canção Quero Amanhecer ao Seu Lado com sua gaita encantada. Meu parceiro Danilo Monteiro foi comovente em sua intervenção no Funk Urbano com sua declamação de Esta Noite Outro Nome Tem a Chuva. A linda Rita Maria trouxe drama e energia à Não me Amola. E o artista plástico Luis Birigüi grafitou, ao longo da noite, um painel sensacional inspirado pelas letras de Drops, Funk Urbano e Não me Amola. Todos foram absolutamente elogiados após o show, cada um deles.
E o público. Um público tão belo que, se a minha miopia não me permitia olhá-los em detalhes, meu peito parecia sentir como se respirassem junto com o pulso e a freqüência da música.
Recebi elogios que me emocionaram, algumas pessoas disseram ter chorado. Tomei a liberdade de postar neste blog alguns comentários que recebi por e-mail(faço isto para deixar guardadas para mim estas palavras sobre este momento, pois e-mails se vão com o vento, afinal...)
Agradeço a todos que encheram o Crowne Plaza na noite de ontem. À minha família e aos amigos leais, aos muitos e já novos amigos ali. A Zyun, Amelinha e a todo o pessoal do Projeto Fênix que veio prestigiar e ainda filmou o show. A Rodrigo Araújo na constante força. À queridíssima Mel Lenz e a Thiago Guimarães pela incrível competência e carinho na reta final.
Especialmente à Marcia, pra quem dediquei o CD e este show.
Ontem foi uma noite realmente incomum para mim.
O Mandacaru é de pedra. Está vivo.

(imagem: foto de 25/10/06 - Crowne Plaza)

segunda-feira, outubro 23, 2006

Bitcho´s VII


Amigos, não tenho arranjado tempo para escrever e postar aqui por conta dos ensaios e preparativos do show de quarta no Crowne(vejam post abaixo), mas nesta "fresta" que encontro deixo registrado neste blog mais um da série Bitcho´s.

Acarus alatu


Se não me iludo

com o que vejo


o perigo não está no ferrão





mas no desejo


(Desenho: Fernando Chuí & Marcia Tiburi/Texto: Luis Carlos de Menezes/Nome científico: Regina Cândida Gualtieri)

quinta-feira, outubro 19, 2006

Work in Progress


(Esta é uma letra que escrevi ontem; surgiu assim de "bate-pronto" quando eu olhava o céu antes de sair para dar aula. Vem da reflexão de que a solidão é somente uma invenção nossa, a ilusão de que estamos sós, tentativa vã de nos desintegrarmos do todo. Ainda não está concluída nem defini a música, mas aceito sugestões. Se estiver suficientemente boa, penso até em tocar na quarta lá no Crowne. O título veio de uma introdução que fiz para ela e que citaria o compositor minimalista.)

Erik Satie

Uma palavra risca o céu
Feito uma gilete
Ou uma nota longa de trompete
Um Nome Impróprio
Causando revolução
Na paisagem

Uma palavra corta o céu
Feito um canivete
Um Z, uma seta, um 7
Um som agudo
Gerando devastação
Na miragem

E é só você
Somente você
que agora me ouve
Só você
no fundo você
no fundo mais fundo de si
Só você
no fundo você
No fundo mais fundo de nós
Só você sabe
que palavra é esta
Só você é quem pode ler

Quem sabe
Eu

(Imagem: Fernando Chuí, 1997)

quarta-feira, outubro 18, 2006

Convite Obsceno - Nunca Vi Mandacaru


Lançamento Oficial! - Nunca Vi Mandacaru

Daqui a uma semana, farei o lançamento definitivo de meu novo CD Nunca Vi Mandacaru no Teatro Crowne Plaza(R.Frei Caneca, 1360), e convido aqui a todos para verem e ouvirem as músicas de meus dois discos e mais algumas versões de músicas de Ari barroso e The Velvet Underground. Tocarei com banda e tudo, além de outra seqüência do show que será mais acústica.
Ainda haverá participações muito bacanas da cantora Rita Maria; do poeta e compositor, parceiro de sons e blogs, Danilo Monteiro; e do artista urbano Luís Birigüi com seu grafite sofisticado. Ao longo da semana, farei comentários sobre as faixas dos cds que serão apresentadas no show, em busca de um diálogo com os leitores e potenciais espectadores.
E olha a mamata:
Os amigos e novos amigos leitores que me escreverem (por aqui ou no fechui@uol.com.br) confirmando seriamente a sua presença neste show terão seus nomes na lista de convidados.
Agradeço aos que nos ajudarem na divulgação desta árdua batalha da música independente!
Quem vem pro Mandacaru de pedra?

terça-feira, outubro 17, 2006

Bitcho´s VI

Gastropoda antenata

Se tens por senhor o medo

pelo sim

pelo não


protege o traseiro




e lambe o chão


(Desenho: Fernando Chuí & Marcia Tiburi/Texto: Luis Carlos de Menezes/Nome científico: Regina Cândida Gualtieri)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Canção sobre um Diálogo IV - Direito à Preguiça

Chuift,

Não se trata da morte da canção, mas a agonia de um certo tipo de canção. Ou ampliando, a morte da ambigüidade na indústria cultural.

O fim do encontro entre as ditas “alta” e “baixa” culturas. É um troço do século XX. Acabou o mercado para isso. Pelo menos no Brasil.

Penso no Radamés Gnatalli fazendo arranjos para sambas na Rádio Nacional. Tom Jobim correndo com Villa-Lobos e colhendo Noel Rosa, fazendo parcerias com Vinícius de Morais, que antes disso era um poeta “sério”, cheio de moral, e então se tornou o poetinha. Concretismo e Rogério Duprat e Júlio Medaglia cimentando o tropicalismo, que também bebia no ébrio Vicente Celestino e petiscava Beatles. Walter Franco misturando os jõoes Cage e Gilberto e levando tudo isso às últimas conseqüências.

Arrigo Barnabé fazendo pop dodecafônico já era o último capítulo dessa agonia.

Você fala sobre o fim da autoria poder ser um primeiro passo para um renascimento deste certo tipo de canção – canção crítica, canção-idéia, ou simplesmente Ela. Minha visão é oposta.

Precisamos separar aqui a questão do direito autoral, e a existência mesma de um autor enquanto sujeito de um tempo, de uma cultura, de uma linguagem. Vou falar só sobre o segundo aspecto agora. Há muita gente hoje fazendo colagens de outros autores, sem conseguir chegar a ser um autor, imprimir uma linguagem própria, singular, a uma criação. É um troço que é tudo e ao mesmo tempo nada.

Precisamos do autor enquanto sujeito.

Se o mercado para Ela morreu, é possível que Ela também morra, porque nasceu dentro deste mercado.

Para que Ela renasça, dependemos exclusivamente dos criadores ainda interessados... enquanto sujeitos! Do esforço hercúleo de remar contra a maré na criação (compor um tipo de música que não tem mercado), e criar mecanismos para encontrar um público possível que faça desta música efetivamente um encontro.

E o que eu, você e os “novos compositores” estamos fazendo - talvez seja ainda tímido no confronto com o passado que citei acima, e quanto às demandas do presente.

Nós somos herdeiros do corpo torturado, privatizado, decapitado e esquartejado da cultura e da política brasileiras.

E agora?

P.S. Quando digo que nossa obra talvez ainda seja tímida, não quero diminuir o que fazemos. Eu choro toda vez que escuto teu novo disco. Seu realmente incrível sentido melódico e harmonioso, suas canções de tanto amor para com a criação, a estrutura enxuta e “anti-pop-espetacular”. “Uma Outra Ilha” é a canção-guia desta nossa discussão: “Luz, olha o horizonte, que maravilha/ Vem comigo buscar uma outra Ilha”

P.S.2.Um mundo em que “Quero Amanhecer Ao Seu Lado” e “Canção de Amor Para Márcia” toque no rádio parece tão próximo e tão distante. Por isso precisamos chegar ao topo da complexidade da sua criação (“Uma Outra Ilha”) e tê-lo como guia para ultrapassá-lo, para talvez chegar a um mundo em que possamos recuperar o clichê crítico dessas duas outras canções.

P.S.3. Me deixe mundo. Nós podemos mundar o mudo. A função antecipadora da arte. “Luz, olha o horizonte, que maravilha/ vem comigo buscar uma outra Ilha”.

Abraços,
D.


(imagem: desenho de Chuí)

quarta-feira, outubro 11, 2006

Canção sobre um Diálogo III - Ensaio para uma Canção


Caríssimo Danilo,
A demora na sua resposta e a própria em si confirmam a sua preguiça de serpente. Sobre a preguiça, tenho cá algumas considerações.
Recentemente, a Marcia Tiburi, em sua palestra sobre literatura e escrita, foi indagada sobre a relação entre a poesia e a filosofia, com o que ela disse, após breve pausa: o filósofo é um poeta cansado. Em outro momento, você então nos questionou se não seria por sua vez o poeta um filósofo preguiçoso.
Destas duas "elucidatórias" perguntas elaboro outras. Se pensarmos no compositor formal, que encontra suas bases em tradições clássicas, na escrita musical, na condução de vozes, no contraponto, etc, etc, poderíamos pensarmos este compositor como uma espécie de cancionista cansado?
Não obstante, o que viria a ser afinal o cancionista, um compositor preguiçoso? E qual seria a função ou a disfunção fundamental desta classe de artistas no mundo de hoje? E de que cancionista estaremos falando? Dos herdeiros assépticos da bossa nova? Das órfãs cantoras técnicas de Elis Regina? Dos pseudo-rebeldes da ala Rock? Dos seguidores dos seguidores da tropicália? E esta canção, se descolaria da música popular instrumental?
Gosto da idéia de uma música-síntese. Mas não tenho certeza de que tenhamos que chamar de canção apenas aquilo que formalmente recebe este nome.
O crítico Tinhorão define o início da música popular brasileira a partir do surgimento dos primeiros nomes, ou seja, com o advento da autoria, da obra composta de compositores nomeados pela história, em contraposição com a obra de domínio público, a música folclórica.
Eu não gosto da idéia da morte da canção.
Prefiro que morra a autoria. O que nos levaria, quem sabe, a uma nova etapa da canção popular. Estaríamos preparados para desafiar a lógica e compor sobre um não-nome, o cancioneiro de ninguém?
(Talvez a geração do Hip-hop, cujos cantores MCs anunciam sempre seus nomes a cada letra que fazem, estejam dando um primeiro passo para isso, sendo que, em termos de canção, não há autoria quando há explícita autoria. Quer dizer, como eu posso ser gravado por vários cantores com uma música em que eu digo "Escuta aqui/meu nome é Fernando Chuí")
Reitero: que morra a autoria pra que rejuvenesça a canção. E essa coisa de um monte de nomes prontos para serem reconhecidos é mesmo um tanto cafona.
Bom, camará, espero que não demore a dar o bote desta vez.
Abraços reverberados,
Chuí

(imagem: desenho de Chuí)

Canção sobre um Diálogo II - Ensaio para uma Canção


"Danilo velho, percebi agora que o verbo que usei no início da nota acima veio bem a calhar, pois eis que a palavra ensaio encontra significados que podem servir ao início deste nosso registro reflexivo. Usa-se o termo ensaio para se nomear a apresentação de um assunto filosófico, científico, histórico ou de teoria literária, caracterizado pela visão de síntese e tratamento crítico do tema em questão. Para os músicos, a palavra refere-se ao simples ato de se preparar a performance, solo ou em conjunto, para o sagrado momento do show. Pensei no que diz o Luiz Tatit, que a canção é o produto de uma dicção. O que você acha que é isso? Vislumbrei o ensaio que poderia surgir de nosso debate e já não sei se, na contagem final dos corpos, teríamos uma tese dissonante ou uma sintética canção. E aí, cumpadre?Abraço polifônico, Chuí"

Chuí,

Preguiça de escrever. Cantar é tão bom.

Paul Valéry:
“Preguiçoso, mas como uma serpente. A menor coisa extrairá dela toda a energia do sol que ela acumula em sua espera imóvel.

Há duas aparências de preguiça: uma que é espera. Outra, repouso.”

Tenho vontade de philosophar (lato senso) e escreber apenas nos momentos em que estou descansando a voz, ou com a barriga muito cheia para cantar.

Você me pergunta sobre a brilhante definição do Tatit: “A canção é o produto de uma dicção”.

Frase bonita. Evasiva, modesta.
Mas vamos às dificuldades, cantando:

“Se você tem uma idéia incrível, é melhor fazer uma canção. Está provado que só é possível filosofar em alemão” (Caetano Veloso)

“I am a student of ancient culture... Before I talk I should read a book”. (de uma canção de B 52’s)

Isso para dizer que… (Preguiça de escrever) Paul Valéry: “O fundo do pensamento não é nada – e as teorias que não resultam em processos, os quais julgam as teses – não me fazem nenhum efeito.”

(E para dizer também que não posso falar sobre a cultura arcaica da canção sem ler o livro do Tatit).

Gosto da sua idéia de ampliar a palavra ensaio lhe dando outras possibilidades em termos de processo. Ensaio para uma canção. Escrever não para entender simplesmente o que é a canção (presente e passado), mas uma reflexão provocadora de processos, que por sua vez resultem (futuro) em novas canções.

Enfim, escrever-cantar para renovar o canto-escrita.

P.S.1 Podemos pensar no Walter Franco e seu disco Ou Não, aquela da capa da mosca sobre fundo branco. Ele estava propondo o fim de um certo tipo de canção e ao mesmo tempo começando outro? Ao mesmo tempo mosca e sopa? E a mosca foi engolida pela sopa? Ou não?

P.S.2 Deus me perdoe ter citado Caetano Veloso, mas o trecho de “Língua” fala muito sobre o tipo de canção que nos formou --- as “canções-idéia” de Caetano, Chico, Tom Zé, Itamar, Lou Reed, Radiohead, Tom Jobim, Noel Rosa etc. Idéia aqui não apenas como palavra, mas principalmente como forma.

Abraços,

D.

(imagem: desenho de Chuí)

Bitcho´s V


Octopus attentus

Olhos de atenção

boca de expressão

garras de tensão

filamentos sutis

seduções e ardis
.

.

Tudo pela vida
.
(Desenho: Fernando Chuí & Marcia Tiburi/Texto: Luis Carlos de Menezes/Nome científico: Regina Cândida Gualtieri)

domingo, outubro 08, 2006

Bitcho´s IV


Homo pteris


E o monstro da razão

fez o que teve de fazer

para viver sua paixão




nasceu de novo com asas


(Desenho: Fernando Chuí & Marcia Tiburi/Texto: Luis Carlos de Menezes/Nome científico: Regina Cândida Gualtieri)

sábado, outubro 07, 2006

quinta-feira, outubro 05, 2006

O Lendário Cobra

Entre os meus onze e os meus catorze anos eu tinha um time de futebol na minha rua.
Cobra era seu nome. Do time, eu quero dizer.
Certa vez fizemos uma "vaquinha" para fazer um uniforme para o time. A quantia amealhada só foi suficiente para mandarmos gravar um pequeno C no lado esquerdo do peito de algumas camisetas brancas; apenas uma para cada um, é claro.
Eu era o caçula do grupo, gostava mesmo era de driblar e chutar para gol, porém só me deixavam jogar na defesa. Eu até que me achava hábil no ataque; no entanto, por ser o menorzinho ali tinha de obedecer aos "grandes". Ao menos tinha a sorte de termos um bom goleiro, o Cardoso, senão acabaria tendo que "catar no gol".
Eu costumava literalmente desenhar no papel as jogadas de gol e as estratégias de jogo após os treinos ou os poucos jogos "contra" que realizamos.
Jogávamos o dito futebol de salão quase todo sábado no parque Ibirapuera. Junto a mim, na retaguarda, jogava às vezes o Tuta; no meio-campo, o Paulo e meu irmão André; Daniel era uma espécie de pivô, corria todo o campo; e como centroavante, o Gustavo, vulgarmente chamado pelos amigos como Cabeção. Gustavo não tinha muito fôlego, por isso ficava plantado à frente da área adversária, quase todo o jogo, na famosa "banheira".
O Daniel gritava até ficar roxo com ele para que voltasse para ajudar na defesa e participar das jogadas estratégicas, mas Gustavo, o Cabeção, era um jogador com pouca disciplina. O gol desenhado na figura é dele, aliás, no nosso primeiro "contra", com um time de outro bairro chamado CEGE, e denota bem o seu usual posicionamento em campo.
Lembro-me bem de um mito que havia entre nós, o invencível time do Humaitá.
O Humaitá era o time campeão da região onde morávamos. Toda vez que na rua se falava nesse time criava-se no ar um certo sentimento de temor e eu me sentia um mero soldado troiano ouvindo falar das façanhas imortais de Aquiles. O Humaitá era um time de craques. O Humaitá não perdia nunca.
Se por algum momento nos gabávamos de o Cobra ser um time bom de bola, por termos jogado muito bem em algum daqueles sábados ou por puro e lúdico regozijo coletivo, aquele nome servia para nos colocarmos em nosso devido lugar: o Humaitá.
Um dia, o Daniel apareceu em casa contando que estava "agilizando" um "contra" com o time do Humaitá. Sofri um calafrio de medo e excitação. Será que eles realmente topariam? Será que o pessoal ia me deixar jogar "na Linha"? Seria um massacre?
Por mais humilhante que pudesse ser o resultado, termos um jogo marcado contra o Humaitá era como ser o time de reserva do Casaquistão e receber o convite para um amistoso com a seleção brasileira. Pra mim, jogar com Aquiles não era tarefa da estratégia ou da habilidade, mas da fé.
Sempre que alguém da turma fazia gozação sobre os chutes pra fora do cabeção, os frangos do Cardoso ou a moleza do Fê(eu, no caso), tínhamos um discurso pronto: “jogo é jogo e treino é treino, a gente é profissional”. Havia sempre um sopro de esperança de vitória, mesmo contra o monumental Humaitá.
O jogo com o poderoso Humaitá nunca ocorreu e o nosso time se dispersou nos idos de 1989. Com os anos, realizamos algumas partidas esporádicas. A última delas eu não pude me esquecer, foi em um carnaval em Laguna, praia de Florianópolis. Eu já era maior, já jogava no ataque e fazia gols. Para permanecermos em campo eu precisava converter o último chute da disputa de pênaltis. Voltamos mais cedo para casa, pois eu chutei muitíssimo pra fora, é claro. A bem da verdade, ninguém se importou muito, o pessoal queria mais era voltar pra casa para fazer a tradicional concentração alcóolica para a noite de carnaval. O Cobra já não estava mais entre nós.
Um time de futebol da infância é a prova viva daquela idéia freqüentemente abordada pela modernidade de que o todo não é apenas a soma das suas partes. O time era o símbolo de um certo momento da vida. Mas unindo novamente as suas partes em outro instante , não se concretizou.
Todavia, parece que as coisas fortes da vida descobrem estranhas maneiras de reaparecer. Quando eu participei, anos atrás, de um festival de música promovido pela rede Globo, o microfone falhou e eu cantei três estrofes sem som algum; segui a apresentação e, felizmente, acabei classificado. Contudo, o mais curioso foi que, na entrevista em que a atriz Maria Paula fez comigo, quando ela me perguntou como eu havia mantido o sangue frio para não parar o show, eu lhe disse, como que porta-voz do velho time: "você sabe, jogo é jogo e treino é treino..."
Parei por um instante para não acabar me comprometendo com o resto da sentença.
O prêmio do festival acabou não vindo, assim como o jogo com o Humaitá. Tive muitos outros Humaitás ao longo dos anos. Ainda tenho alguns, mas hoje em dia não confesso tão facilmente quais são.
Mas Cobra, só houve um.
Entre os meus onze e os meus catorze anos eu tinha um time de futebol na minha rua.
Cobra era seu nome. Do time, eu quero dizer.
A rua se chamava Noel Torezin, onde ainda mora minha mãe e a mãe do Cabeção, que hoje tornou-se delegado no interior de São Paulo.

(imagem: desenho de Fernando Chuí de 1987)

quarta-feira, outubro 04, 2006

Bitcho´s III

Dispor de antenas
Acionar o ferrão
Estimular os sensores

lhe dá a sensação de ser
como uma força armada

Supérflua.
(desenho: Fernando Chuí e Marcia Tiburi/texto: Luis Carlos de Menezes)

terça-feira, outubro 03, 2006

Wow, The Dirty Darling! - Crônica de uma Banda de Garagem II

Wow, The Dirty Darling! era o nome de uma das primeiríssimas músicas produzidas naquela época inicial do grupo, mais precisamente no primeiro dia de nossa banda de garagem, que, para ser mais especifico ainda, não ocorreu em uma garagem, mas no quarto do Bigatto.
Esta mais que simplíssima composição instrumental surgiu como quase todas as primeiras músicas costumam surgir nas primeiras bandas de rock da vida dos garotos: da famosa escala pentatônica e do inigualável Mi power-chord.
Aos que não pertencem ao grupo dos Fiz-pelo-menos-uma-aula-de-guitarra, explico. A escala pentatônica é, grosso modo, uma série de 5 notas usada para se tocar Blues; e o Mi power-chord é tão simplesmente a sexta corda da guitarra, o chamado Mizão, tocado junto com o dedo indicador da mão esquerda na segunda casa da quinta corda. Qualquer ser humano em estado de adolescência que toca com sua palheta em uma Fender Stratocaster esse "bicorde" com intensidade, em um amplificador Marshall valvulado em alto volume de distorção, sente um pouco do que imagina ser o toque poderoso da fusão entre Deus e o Diabo.
Não era, obviamente, o nosso caso.
Naquela tarde eu toquei em uma guitarra sem nome do Bigatto(eu ainda não possuía uma), em um amplificador chamado Mikasin, ou algo que o valha, e não havia pedais de distorção. Para piorar, o Bigatto não tinha palhetas; eu precisei tocar com as unhas que, recém deixadas para a aula de violão, deram lugar, ao final da tarde, a pontas de dedos machucadas pela minha imperícia. Enquanto eu procurava manter o ritmo do novo Riff, O Bigatto cantava em inglês enquanto castigava uma batida quadrada de rock com baquetas rachadas em um velho pandeiro, herança de meu irmão André. Cristiano Ricardo, o CRS, que mais tarde tornou-se o preciosista baixista do DD, substituindo Mamel, participou deste evento inicial, tocando a linha de baixo em um teclado de brinquedo que também havia ali. Também neste primeiro encontro havia entre nós um cara que se tornou uma espécie de anti-Dartagnan do Dirty Darling, um Dartang Darling, o Mr. Américo Vespúcio. Américo na verdade se chamava Érico(apesar de eu até hoje não conseguir chamá-lo por seu nome real), foi o autor da letra do primeiro "Hit" cantado da banda, Mr. Buzzer, e ainda engrossava o coro. Hoje ele produz um dos maiores sites sobre cinema e cultura pop do país.
Nunca nos sentimos divinamente poderosos como banda e talvez seja um dos pontos mais interessantes do grupo. Ninguém ambicionava o famoso "tocar pra caralho", ninguém fazia cara de mal e nem tampouco sonhava em arranjar mulheres nos shows(Bom, talvez o Mamel...).
O mais importante ali era o encontro com o lado que considero mais interessante do rock: o paganismo sociocultural.
(continua...)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Bitcho´s II


(Mais um da série Bitcho´s. O Menezes, meu pai, faz aniversário hoje, dia 2 de outubro. Ele é físico e educador, mas em breve lançará seu livro de poemas Breviário, uma perfeição. Dou-lhe os parabéns presenteando aos leitores do blog com mais este lindo haikai escrito por ele.)

Avis junonalis


Não haverá razão

para o pudor ou a decência





quando atingir o esplendor

da sua decadência


(desenho: Fernando Chuí e Marcia Tiburi/texto: Luis Carlos de Menezes/nome científico: Regina Cândida Gualtieri)